Nos últimos anos, as iniciativas governamentais no âmbito do capital semente e venture capital (VC) não só impulsionaram várias startups – nomeadamente porque criaram na sociedade um ambiente de empreendedorismo de que não temos tradição – como tornaram visíveis algumas histórias de sucesso. O ecossistema precisa desses exemplos, apesar de os mesmos não serem suficientes para as necessidades das iniciativas empresariais.
O suporte das VC e dos Business Angels portugueses é constituído por capitais públicos. Daqui não vem mal ao mundo, pois também se financiam as Googles e os Facebooks com fundos públicos. O problema é que, sem apoio público para acompanhar segundas rondas de financiamento e seguintes, o investimento acaba por se tornar irrelevante nestas fases.
Ora, uma empresa com grande potencial normalmente precisa de financiamento adicional e isso não é mau. Depois de provar o seu conceito no mercado, consumirá mais fundos mas criará mais valor, preenchendo todo o seu potencial. São essas disponibilidades que concretizam a diferenciação, a internacionalização, a propriedade intelectual, as aquisições, a melhoria operativa, e que permitem desenvolver marcas globais e criar condições para fazer IPO.
O grande valor dos ativos das Private Equities (PE) portuguesas surgiu em condições irrepetíveis, consequência da crise bancária e dos seus impactos. Ora, as PE portuguesas procuraram empresas com alguma instabilidade de curto prazo, fruto da crise, em indústrias mais maduras. Isto significa que não temos entidades nacionais verdadeiramente vocacionada para o suporte da ambição dos empreendedores mais visionários e projetos com potencial global.
Na verdade, não existem veículos nacionais específicos para suportar o crescimento e as aquisições. Sem uma estratégica de M&A é muito difícil fazer ofertas globais. As empresas podem ser reconhecidas e ter parceiros, mas, quando menos esperam, podem ser substituídas, pois não controlam a cadeia de valor. Mesmo as mais inovadoras, correm riscos sérios – nenhuma inovação o é permanentemente. Menos ainda no tempo presente, em que a velocidade de desenvolvimento tecnológico e de criação de produtos sucedâneos é ultra extraordinária.
Percebe-se assim que a esmagadora maioria das iniciativas em Portugal são B2B. Mesmo os casos de sucesso ficam dependentes de um número reduzido de clientes. Para criar negócios B2C é necessário outro tipo de investimento: marca, experiências segmentadas, estratégias geográficas, forças de vendas, gestão de cobranças, etc. Só assim se criam empresas ancoradas no mercado, se alteram hábitos de consumo, se modernizam economias.
O ecossistema não pode deixar que os jovens empreendedores considerem que o sucesso se limita à angariação do primeiro financiamento ou que vão ser como Mark Zuckerberg e, no segundo ano, se tornam empresários. Não foi assim nesse caso, nem em nenhum outro de sucesso global.
O crescimento da base da pirâmide no early stage, tem de ser acompanhado por mais financiamento para os projetos que demonstraram potencial e oportunidades. O resultado do investimento inicial com fundos públicos só começa a fazer sentido nessa fase.
Não é relevante dizermos que existem milhares de startups, se mesmo as melhores têm o seu desenvolvimento limitado, não controlam a cadeia por falta de capital ou desistem por falta de financiamento ao fim de 3 ou 4 anos. Não se reestrutura uma economia com startups. Podem contribuir muito, se evoluírem e crescerem significativamente. De outra forma, serão bandeiras políticas sem rasto.
Fica assim evidente a importância do capital de expansão, em que os volumes de investimento são maiores, mas os riscos das oportunidades muito menores. É urgente aproveitar a situação económica atual para captar volumes significativos de capital a fim de potenciar as empresas.
O nosso grande deficit é capital, logo temos que posicionar as oportunidades nacionais de uma forma global na agenda das Private Equities internacionais de maior relevância. Para o conseguirmos, é preciso injetar adrenalina e ambição nos empreendedores, muitas vezes na fase de maior stresse dos projetos, mas também nos momentos decisivos e irrepetíveis da sua vida.