Após a queda do anterior governo de direita, o então Presidente da República Cavaco Silva encarregou António Costa de “desenvolver esforços” para “apresentar uma solução governativa estável, duradoura e credível”. O líder socialista apresentou a dita geringonça.
O primeiro teste à coesão da nova maioria de esquerda surgiu logo no mês seguinte, quando Mário Centeno enviou ao Parlamento um Orçamento Rectificativo para injectar 2.255 milhões de euros no Banif. As bancadas do BE, PCP e PEV uniram-se para votar contra a proposta do seu próprio Governo, e se não tivesse sido a abstenção do PSD, então provavelmente Costa já não seria hoje primeiro-ministro; não obstante, o PS aproveitou a ocasião para atacar a direita ao invés de se indignar com os seus novos amigos de esquerda.
O filme parece estar agora prestes a repetir-se com a TSU. Mais uma vez os socialistas estão a dirigir as suas baterias ao PSD e ao CDS, ao invés de fazerem um mea culpa por não terem garantido o apoio dos seus parceiros BE, PCP e PEV. Pasme-se, para alguns reputados comentadores da nossa praça o problema não está no funcionamento da geringonça, mas sim em Passos Coelho que, mesmo não concordando com a medida, deveria aceitá-la de bom grado, só porque uma parte da maioria de esquerda se prepara novamente para desertar.
Mais uma vez fica provado que a actual solução governativa está longe de ser estável, muito menos credível. Quando surge algo menos popular, a sua durabilidade é logo colocada em causa. Hoje está à vista que Cavaco Silva foi enganado. É que o PS comemora habitualmente com os seus amigos, mas no final da festa espera sempre que sejam os seus adversários políticos a ajudá-lo a pagar a conta.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.