Quando pensamos e falamos de democracia provavelmente emergem ideias como a eleição através do voto de representantes políticos, a existência de partidos políticos, a liberdade de expressão. No entanto, a democratização das sociedades não se deve cingir ao sistema político. Não há democracia plena sem a democratização do sistema económico, das empresas, dos locais de trabalho. Foi essa a ambição (em grande medida não realizada) de vários movimentos políticos. Uma das características comum a vários regimes político-económicos que têm existido é que o seu modelo dominante de organização do trabalho e da produção não é democrático. Os trabalhadores não têm poder sobre o produto do trabalho que realizam. Há exploração. A escravatura, o feudalismo e o capitalismo são exemplos de modos de produção não democráticos.
O economista marxista Richard Wolff salienta no livro “Democracy at Work. A Cure for Capitalism” que com poucas e temporárias excepções, quando socialistas e comunistas chegaram ao poder e tentaram mudar o sistema económico, não deram prioridade à democracia no local de trabalho. Deram passos para uma propriedade mais social e menos privada dos meios de produção, e para mais planeamento estatal e um papel mais reduzido para os mercados. Não compreenderam a necessidade de reorganizar a produção. O que define um sistema económico é primariamente a organização da produção, como a produção e distribuição da mais-valia é organizada. No capitalismo, o patrão (seja privado ou estatal) apropria-se e decide o que fazer com a mais-valia produzida pelos trabalhadores, que em geral não têm poder nas empresas. Por isso regimes como a antiga União Soviética e actualmente a China devem ser considerados fundamentalmente como regimes de capitalismo de Estado.
Richard Wolff defende que para transformar a economia é fundamental democratizar as empresas. Uma das soluções para a crise económica e social contemporânea seria apoiar a criação e desenvolvimento de empresas ou cooperativas geridas pelos trabalhadores. Nestas cooperativas questões fundamentais: O que produzir? Onde produzir? Como produzir? O que fazer com os lucros? – seriam decididas colectiva e democraticamente. Neste modelo, os trabalhadores (que produzem a mais-valia) são responsáveis pela apropriação e distribuição da mais-valia gerada. A Corporação Mondragon, um grupo de cooperativas e empresas com origem no País Basco é um exemplo de que é possível fazer diferente em larga escala.
Num tempo em que se agravam os problemas gerados pelo funcionamento do sistema capitalista global (degradação ecológica e desigualdades acentuadas) é vital encontrar caminhos de transformação da economia, tanto ao nível macro como micro económico. O que a história nos tem demonstrado é que o capitalismo (seja Neoliberal ou de Estado, desregulado ou regulado) não oferece perspectivas de um futuro de paz, sustentabilidade ecológica e felicidade para a humanidade. A História não acabou. É fundamental aprender com os erros e sucessos do passado. Democratizar a economia é (r)evolução.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.