Para entendermos o atual Modelo de Educação temos que recuar 300 anos pois, historicamente, este tem as suas bases assentes na expansão do Império Britânico pelo mundo.

Na altura, para promover o sucesso da sua campanha militar, os ingleses criaram aquilo a que chamaram de Máquina Burocrática Administrativa. Esta “máquina” era composta por pessoas, tantas quanto possível, todas elas iguais, ou seja, com o mesmo tipo e nível de conhecimento. Por outras palavras, significa que estas pessoas tinham que assegurar tarefas simples mas de extrema relevância, como por exemplo, a correta leitura de relatórios de guerra, o cálculo de trajetórias balísticas, o devido aprovisionamento do batalhão, entre outros.

Para tornar isto possível, foi criada uma outra “máquina” a que chamaram Escola, onde dotavam estas pessoas das habilidades necessárias. Foi deste modo que os britânicos conseguiram assegurar o sucesso e a sustentabilidade do seu sistema e investidas militares. No entanto, esta infraestrutura escolar montada por eles era tão forte que sobreviveu ao passar dos tempos, foi replicada, escalada e ainda continua a gerar pessoas, todas elas iguais, para uma “máquina” que já não existe.

A Escola adquiriu portanto a função do que se poderá apelidar como “industrialização do conhecimento”. Estou a falar portanto, de um modelo mecânico castrador da criatividade, diversidade e singularidade do indivíduo, onde o recurso humano era um mero meio para atingir um fim.

Com os pés nos dias de hoje e a cabeça em retrospetiva dos últimos 150 anos podemos constatar que, ainda que o Modelo de Educação se tenha desenvolvido e evoluído, este não viu a sua génese proporcionalmente afetada pela inovação social, económica e tecnológica, comparativamente com outros setores. Existe ainda uma margem de progressão enorme que começa a descobrir o recurso humano como um princípio para atingir um fim, maior: a sobrevivência da Humanidade.

Num momento em que testemunhamos a expansão e a personificação da inteligência artificial, torna-se crucial fomentar o único conhecimento que a “máquina” não tem nem nunca terá, a sabedoria. Acredito que apenas através da Educação poderemos nutrir as novas gerações com a sabedoria das boas escolhas mas desta, pela mão de um modelo orgânico adaptado ao potencial do ser humano.

Este novo Modelo de Educação que vislumbro, subscreve características que, em contraposição à ideia inicial, maximizam a criatividade, diversidade e singularidade do indivíduo através de uma aprendizagem personalizada, contínua, experiencial, colaborativa, intergeracional, ramificada e digitalizada:

  • Aprendizagem personalizada: centrada no aluno, não no professor; o aluno terá um ensino adaptado às suas características específicas e o professor adquirirá não só a função de facilitador da aprendizagem como de gestor da performance do aluno com base em indicadores concretos num dashboard;
  • Aprendizagem contínua: com a democratização da internet, qualquer pessoa, independentemente da sua classe social e geografia, poderá aprender a qualquer hora e em qualquer lugar com conteúdos modulares;
  • Aprendizagem experiencial: o ambiente de aula tornar-se-á imersivo, interativo e divertido para promover maior facilidade na aquisição de conteúdos. Se tenho que aprender a Teoria da Relatividade, porque não estabelecer uma conversação com Einstein?
  • Aprendizagem colaborativa: toda a sociedade atual está baseada no conceito da escassez, i.e. na competição e fragmentação. Em contraposição, deverá construir-se a implementação de um novo conceito – o da abundância. Por outras palavras, cooperação e simultaneidade, que ajudará igualmente a amenizar a crise de valores que vivemos;
  • Aprendizagem intergeracional: o conceito promove ativamente a polinização do conhecimento entre diferentes gerações e fomenta o alargamento do período útil das carreiras profissionais que valorizarão o estatuto ancião, capitalizando o seu conhecimento;
  • Aprendizagem ramificada: o mapeamento do conhecimento do indivíduo está a emergir e permitirá desenhar as fronteiras entre as disciplinas, cruzando-as para que floresça conhecimento novo e surja a oportunidade de os próprios indivíduos se interligarem entre si;
  • Aprendizagem digitalizada: coligir e analisar os dados da performance tanto de estudantes como de professores permitirá a ambos um maior encontro com as suas valências inatas e o incremento substancial da sua produtividade.

Assim, reitero a minha crença de que, segundo a minha visão, a digitalização da Educação vem por um lado, abrir a Academia, que cada vez terá de dar resposta a uma maior procura para preparar um maior número de alunos; por outro lado, libertar o ser humano, dando-lhe a possibilidade de saber mais sobre si e o seu potencial de desempenho individual e coletivo; e ainda, originar o próximo movimento educacional, que intitulo de Organicismo, no final de contas, uma derivação sequencial lógica dos movimentos anteriores – Comportamentalismo, Cognitivismo, Humanismo, Socio Construtivismo e Conectivismo – aliados ao novo contexto social, económico e tecnológico.

A imersão nesta nova realidade prevê-se a médio/longo prazo e terá tanto de progressiva como de natural, uma vez que de geração em geração será reforçada a dependência inevitável da tecnologia. É normal questionarmo-nos sobre os impactos negativos que possa vir a ter, mas, como tudo, a digitalização da Educação poderá ser utilizada tanto para o bem como para o mal. É justamente aí que contaremos com a sabedoria das novas gerações para decidirem em nome de todos. Sabedoria essa que a mãe Educação poliu e libertou.