A soma dos sócios de clubes de futebol dá um número incrivelmente mais elevado do que a soma de todos os filiados nos partidos políticos. Isto significa que os partidos têm respeito e admiração por organizações poderosas e focadas. Claques e aficionados arrastam multidões e estes fenómenos populistas estão longe de abarcar apenas os chamados “grandes” do futebol, mas envolve toda uma miríade de clubes.
As televisões, as rádios, os sites e a generalidade da comunicação vive de futebol. Na discussão pública o espaço ocupado pelo futebol é avassalador e a forma de conquistar a atenção é “semear ventos e colher tempestades”, com ou sem Bruno de Carvalho. As claques violentas reproduzem modelos populistas da política e quase imitam os modelos fascistas, o que em teoria poderia levar à dissolução das claques e das associações que apelam à violência, pois são proibidas pelo texto fundamental da Constituição.
Quem participa em ações de violência é cobarde, e para os bandidos os discursos deixaram de chegar. É necessário fazer alguma coisa ou os organismos internacionais do futebol fazem-no por nós. Chega de pensarmos que a estória que aconteceu no Sporting com a invasão da Academia, a divulgação de escutas e o anúncio de processos com a operação Cashball, ou a mera indiciação dos assaltantes por associação criminosa, é suficiente.
As declarações de Marcelo, de Ferro Rodrigues, de ministros, de dirigentes desportivos e de várias personalidades é claramente insuficiente perante aquilo que pode vir a ser o hooliganismo no futebol português, destruindo o evento de eleição das famílias, mas também a indústria melhor organizada e com melhores resultados que Portugal jamais teve.
Cânticos de apelo à morte e outras frases semelhantes, feitas por claques dos vários clubes, não são admissíveis. E como os discursos não chegam, é necessário atuar ao nível da educação cívica para eliminar qualquer tipo de favorecimento à violência e aproveitar a futura autoridade nacional contra a violência no desporto para criar uma blacklist onde os intervenientes nos distúrbios sejam erradicados destes eventos durante muitos anos.
Não podemos destruir os clubes que historicamente foram as instituições onde se praticava a democracia, mesmo no Estado Novo. Mais. Não podemos chegar ao nível do que aconteceu durante algumas semanas no “verão quente” do PREC, quando se acabou com os relatos de futebol ao domingo. As Forças Armadas quiseram educar o proletariado e quase levaram os grandes a criar um pacto para, eventualmente, mudarem as equipas para o Brasil.
Não queremos que os clubes voltem a ter a sua democracia em risco. O que é preciso é erradicar os bandidos, e as Autoridades policiais e judiciais têm a oportunidade de revelar a teia. Este é um momento de dor, não apenas para os sportinguistas, mas para todos os adeptos de futebol.