A Plataforma para o Crescimento Sustentável (PCS), liderada pelo social-democrata Jorge Moreira da Silva, apresentou esta segunda-feira um ‘policy paper’ em que defende que a redução da dívida pública é uma “prioridade”, mas que a mesma deve ser feita cumprindo as regras orçamentais europeias, diminuindo os ‘stocks’ da dívida, criando condições para o crescimento económico e fazendo uma gestão prudente da dívida pública, antecipando os pagamentos ao FMI e “alisando” os montantes a reembolsar todos os anos.
A existirem soluções europeias, as mesmas poderiam passar por um programa de mutualização das dívidas (“eurobonds”), que permitiria uma poupança anual de 900 milhões de euros, mas para tal será necessário cumprir as regras e entrar numa verdadeira união orçamental a nível europeu, defendem os autores do estudo.
Coordenado pelo economista e professor universitário Joaquim Miranda Sarmento, o relatório da PCS contou com as colaborações de Luís Bravo, Francisco Catalão, Nelson Coelho e Ricardo Santos. E, segundo Joaquim Miranda Sarmento, não pretende ser uma resposta ao relatório que um grupo de economistas do PS e do Bloco de Esquerda apresentou há cerca de um mês e que defende, entre outras medidas, a reestruturação dos 51,6 mil milhões de euros em empréstimos europeus recebidos por Portugal em 2011.
“Este trabalho começou a ser feito em outubro ou novembro do ano passado. (…) O que quisemos foi apresentar uma proposta nossa que nos permitisse ter um debate mais informado e rigoroso sobre esta matéria. (…) Tínhamos o relatório pronto em Abril mas entretanto saiu o do PS e do Bloco e quisemos dar algum tempo”, explicou Joaquim Miranda Sarmento.
Os autores rejeitam “soluções milagrosas” para a dívida pública, como um perdão [‘haircut’], as quais, defendem, teriam “custos económicos e sociais muito elevados” e “consequências calamitosas”. A PCS defende que será possível reduzir a dívida pública dos actuais 130% para menos de 100% do PIB, em 10 a 15 anos, através de uma combinação de saldos primários na ordem dos 3% do PIB com um crescimento nominal da economia acima dos 3%.
A PCS sugere ainda que o IGCP deve procurar diversificar as fontes de financiamento, alisar os montantes de dívida a reembolsar anualmente para menos de 10 mil milhões de euros por ano e manter uma almofada de liquidez na ordem dos 6 a 8 mil milhões de euros, como forma de evitar o recurso ao mercado em situações de turbulência.
“O facto de estarmos num momento positivo não nos deve fazer esquecer que a situação internacional é muito volátil”, disse Jorge Moreira da Silva, fundador e presidente da PCS, num encontro com jornalistas que teve lugar esta manhã. Moreira da Silva e os autores do estudo manifestam-se contra a redução desta almofada, ainda que a sua manutenção represente um custo para o Estado português.
Haircut teria consequências “calamitosas”
“Uma solução com ‘haircut’ não seria impossível [de fazer] mas teria custos elevadíssimos, extraordinários, para Portugal”, defendeu Joaquim Miranda Sarmento. “Uma grande parte da dívida pública está em mãos nacionais [ver dados abaixo] – na poupança dos portugueses e no sector financeiro – e qualquer solução de haircut teria um impacto muito negativo”, defendeu. “Qualquer solução tem de partir do cumprimento das regras orçamentais europeias”, acrescentou. O economista defende que não será possível negociar uma eventual “solução europeia” para a dívida pública sem que essas regras sejam cumpridas.
As soluções propostas pela Plataforma para o Crescimento Sustentável:
As soluções propostas pela PCS dividem-se em duas componentes. Em primeiro lugar, as que estão ao alcance de Portugal através de uma gestão “prudente” da dívida pública. Em segundo lugar, as soluções europeias.
– Gestão da dívida pública:
– Soluções europeias:
O grupo de trabalho considera que, a nível europeu, “só é possível procurar soluções que não passem por restruturação com haircut ou outro tipo de perdas para os Instrumentos Europeus”, dado que qualquer perda sofrida por estes instrumentos teria de ser suportada pelos contribuintes dos estados-membros da zona euro. “Tal afigura-se impraticável do ponto de vista político”, defendem.
Assim, as medidas “europeias” propostas pela PCS têm em conta esse condicionamento político:
QUEM DETÉM A DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA:
(Valores em milhões de euros)
Institucionais sem possibilidade de ‘haircut’:
FMI: 16.500
BCE/BdP: 34.000
Investidores nacionais:
Particulares: 25.000
Sistema financeiro português: 53.500
Segurança Social: cerca de 8.000
Outros Investidores:
Instrumentos Europeus: 51.600
Investidores Estrangeiros: 51.500
Para consultar o estudo na íntegra clique aqui.
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