Há muitos anos que os três maiores clubes do futebol português não mantinham uma competição tão equilibrada e interessante. Isso ficou provado na semana que deixa o FC Porto com caminho aberto para o título de campeão, o Sporting como favorito para ganhar a Taça de Portugal (ao Aves) e o Benfica como o maior perdedor mas ainda espreitando a oportunidade de vencer a Liga.
É uma boa altura para fazer um ponto de situação dos acontecimentos desportivos desta época na perspetiva dos três grandes.
O FC PORTO não teve muita sorte na fase final da temporada. Para além das provas que perdeu apenas na marcação das grandes penalidades, ambas com o Sporting, inequivocamente há uma equipa com Danilo e Marega, poderosa, pressionante, goleadora, e uma outra, sem eles, com menos soluções, ainda para mais se aos grandes problemas se juntarem episodicamente outros, como foi o caso de Alex Teles, Brahimi, Corona e não só. O incansável Herrera desdobrou-se no meio campo, e disfarçou a ausência de Danilo tanto quanto possível, mas na frente não há alternativa a Marega como assistente do ponta-de-lança, seja ele Aboubakhar, que tem ido de mais a menos, ou Soares, outro bom avançado. Sérgio Conceição sentiu, portanto, muitas dificuldades neste trabalho extremamente difícil que lhe foi proposto de fazer uma equipa a partir dos jogadores sob contrato. Está a ter êxito e apresta-se para colocar um ponto final num longo jejum de títulos. Tem muito mérito e o FC Porto pode agora programar com calma um futuro que deve contar com Diogo Dalot, Sérgio Oliveira, José Sá e outros jovens de qualidade. De uma época para a outra, o desafio será ultrapassar o provável abandono de Casillas e de algum dos centrais, como Marcano e talvez até Diego Reyes. O FC Porto foi forte frente ao Benfica, teve sorte no golo de Herrera, por ter acontecido nos últimos minutos, e foi eliminado à tangente na Taça de Portugal. A poupança de Marega deve ser vista à luz da necessidade de gerir o jogador mais decisivo e de não correr riscos naquele que é o objetivo principal: ser campeão.
O SPORTING ganhou um líder nestes dias: Jorge Jesus. Convém que quem manda no Sporting perceba isso e não estrague o que está bem. A equipa é boa, combativa, profissional, tem dois jogadores tecnicamente espetaculares (Gelson Martins e Bruno Fernandes), outros dois com a personalidade e qualidade que faz a diferença (os ‘capitães’ Rui Patrício e William Carvalho) e vários outros que chegaram este ano e acrescentaram (Battaglia, Acuna, Piccini, Mathieu, Ristovski, Coentrão). A recuperação de Brian Ruiz e a importância de Bas Dost e Coates completam o núcleo. Precisa, apenas, de mais alternativas no ataque porque Montero e Doumbia não pertencem a este filme. Esta realidade impõe ponderação, maturidade e sentido de responsabilidade a quem dirige. Provavelmente o Sporting precisará de vender, como qualquer outro clube português, mas deve saber proteger o essencial para poder continuar a recuperação desportiva dos últimos anos, começada com Leonardo Jardim, prosseguida por Marco Silva e potenciada por Jorge Jesus, que teve de assumir mais responsabilidades das que são normais num treinador. Na verdade, como diz Jesus, o Sporting bateu-se bem em todas as frentes. Competiu com personalidade, mesmo na Europa, e só fraquejou naquele período das lesões em que perdeu pontos decisivos em Setúbal e Estoril. Não tivesse sido isso e a época poderia ser de sonho para o Sporting que, depois de ganhar a Taça da Liga e garantir a ida ao Jamor, sempre a custa do FC Porto, ainda dispõe da possibilidade, realista, de acabar segundo na Liga com a abertura de uma janela de oportunidade para a Liga dos Campeões. Mais do que isso é pouco provável.
O BENFICA não deveria ser ingrato para Rui Vitória, que está a ser crucificado pelas substituições que introduziu no jogo perdido com o FC Porto. E não há razão para isso, a não ser, talvez, na substituição direta de Rafa por Sálvio. Talvez que a equipa pudesse ter ganho com a deslocação de Rafa para outras zonas, porque estava, na verdade, a ser o jogador mais incómodo para o adversário. De qualquer forma, é preciso olhar para o que havia no banco e para quem estava em campo. O Benfica tinha no terreno um quarteto de criativos pesos-pluma: Rafa, Pizzi, Cervi e Zivkovic. Nos últimos momentos importava ganhar peso e, não tendo aparecido o golo, também cuidar do resultado (foi o que fez Sérgio Conceição em Alvalade com a entrada de Reyes para médio defensivo, e também perdeu, repararam?). São decisões normais no futebol. Às vezes sai bem, outras não, e calha a todos. De resto, Rui Vitória teve o mérito de inventar uma defesa, depois da saída de Ederson (Man, City), Nélson Semedo (Barcelona) e Lindelof (Man. United) e da entrada de Luisão na última etapa da carreira. Não era fácil e o treinador cumpriu com a prata da casa, limitado pelas possibilidades financeiras do clube. Lançou Rúben Dias, um central com o qual a seleção contará no futuro. Recuperou Jardel e André Almeida para o papel que tinham tido dois anos antes. Confiou em Bruno Varela, que tem qualidades. E, tal como Conceição e Jesus, o treinador do Benfica teve duas lesões complicadas de gerir – primeiro a de Krovinovic, que estava a ganhar estatuto de titular, e agora a de Jonas, no momento decisivo. Nada que deva fazer esquecer o mérito com que geriu a renovação e regressou à luta quando, a certa altura da temporada, tudo parecia perdido. O Benfica acabará sempre a época com um título: o da Supertaça. Se ficar em segundo lugar, podendo a partir daí aceder à Champions, o único ponto verdadeiramente negativo será a carreira europeia, que foi péssima qualquer que seja o ângulo de análise.