No topo de qualquer ranking internacional de universidades estão, invariavelmente, universidades americanas e inglesas.  Salpicado por outros países como Suíça, Singapura ou Canadá, o domínio continua a pertencer a estes dois países, mais correctamente Estados Unidos (EUA) e Reino Unido (RU).

Curiosamente, se olharmos para os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (cuja sigla internacional é mais conhecida – PISA), coordenado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, o Reino Unido aparece na 23ª posição e os EUA na 24ª (dados de 2012). Desde 2000, o lugar cimeiro pertence à Finlândia e China, com o Canadá sempre em destaque. Em 2012, Portugal ficou em 32º lugar.

Porque é que não estando nos lugares de topo do PISA, têm as melhores universidades? E se Portugal não se afasta assim tanto destas duas realidades (EUA e RU) nos resultados do secundário, porque é que a disparidade nos rankings das universidades é tão grande?

Em minha opinião porque no Reino Unido (idêntico nos EUA) o investimento nas universidades é feito por duas vias. Pelos recursos internos – é muito comum antigos alunos serem mecenas das universidades e haver um regular e muito elevado investimento em equipamento de toda a ordem e em bolsas de estudo – e externo, no sentido das universidades disputarem entre si os melhores alunos do mundo, da Europa ou do país.

No Reino Unido as universidades “vendem-se” junto dos alunos. Tentam conquistá-los. Têm dias próprios para os receber e mostrar as vantagens da “sua” universidade. Mas se esse dia não for oportuno, em qualquer outra altura estão disponíveis para o fazer. E fazem-no ‘à séria’. E escrevem. Seduzem os alunos também por correio: enviam cartas, brochuras, sempre impressas com elevada qualidade e apelativas. Enviam também pequenos e curiosos “apelos” sob a forma de chocolates a dizer “Queremos-te cá porque fizeste por o merecer!” ou até uns earphones.

E como é que os alunos são seleccionados? Como em Portugal? Não, a diferença de avaliação é abismal. Claro que as notas também são tidas em conta e de forma relevante mas, para além das notas, os alunos têm, entre outros elementos de avaliação, de fazer uma carta de apresentação (Personal Statement) onde devem deixar claro outro conjunto de competências que, idealmente, são relevantes para o curso e futura profissão que querem estudar e seguir.

Para medicina ou veterinária, por exemplo, valorizam – em muitos casos é factor eliminatório – ter tido experiência em consultórios, hospitais, etc., em trabalhos de verão, por exemplo. A prática de exercício físico individual ou a participação em desportos de equipa, a música, teatro, prémios ou evidência de capacidade de gestão de tempo, por exemplo, tudo conta na avaliação da candidatura. Em muitos casos, são feitas entrevistas. Não é tão raro assim que um aluno com a nota máxima seja recusado pela universidade. Se não mostrar aptidão para o curso a que concorre, é recusado.

O sistema nacional limita-se a ordenar os alunos candidatos de acordo com as notas obtidas e a aceitar os que apresentem as notas mais elevadas. Neste processo “perdem” dois tipos de alunos. Os alunos que poderiam ser excelentes para a sua universidade mas que nem a ela se candidataram porque não identificaram valor na sua proposta, e os que, tendo-se candidatado, ao não apresentarem as melhores notas são excluídos mesmo que sejam excelentes noutro tipo de competência(s), eventualmente até fundamental e ajustada ao curso que pretendem tirar.

Enquanto as universidades de topo querem os melhores alunos de todo o mundo e seguem um método de escrutínio holístico, as nacionais mantêm uma avaliação segundo critérios limitados, quase que excluindo os alunos que, estando em Portugal, estudam em escolas internacionais. Porque por exemplo, a correspondência de notas de um aluno que faça um International Baccalaureate (IB) para o sistema nacional é tão injusta, que se torna quase impossível para estes ficarem em Portugal.

Quem perde, na maioria dos casos, somos nós, enquanto país, as nossas universidades e potenciais empregadores.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.