Os jornais em papel têm os dias contados. Basta perguntar aos jovens que têm hoje entre 20 e 30 anos para se constatar que ninguém compra ou lê jornais. Desaparecida a geração que nasceu entre os anos 50 e 70, e ninguém restará para comprar o jornal todas as manhãs (desportivos incluídos). Perdurarão, talvez, as revistas com aspecto gráfico apelativo, mas em doses homeopáticas. E acredito que os livros em papel resistirão bem.
O desaparecimento dos jornais em papel poderia ser compensado pelos jornais digitais. Aparentemente, assim acontece. O New York Times e o El País já fizeram as contas e garantem que daqui a dez anos o essencial da sua estrutura informativa estará assente no digital. Há que reconhecer a existência de jornais digitais muito bons, conciliando texto, imagem e vídeos assentes em critérios jornalísticos rigorosos. Mas também há blogues e portais em que o disparate é livre e as trafulhices noticiosas a regra.
Ora, a questão essencial não é o debate entre papel e digital – como outrora com a televisão e a rádio – é saber como garantir a liberdade de opinião e através dela o espírito crítico e a consciência cívica na população. Sem informação livre e sem verdadeira liberdade opinativa o estatuto dos cidadãos numa democracia fica em crise. E quem não sabe não pode escolher bem. Tudo isto vem a propósito do estado actual da comunicação social portuguesa. Jornais, televisão e rádio vivem uma quase unanimidade em matéria de louvaminhas à gerigonça e ao actual Governo, destacando-se todos no panegírico ao “génio político” do primeiro-ministro. Essa atitude não decorre apenas do facto da maioria dos jornalistas serem de “esquerda”, ou odiarem Pedro Passos Coelho. Tem sobretudo a ver, julgo eu, com as manifestas dificuldades económicas em que vivem, em particular a imprensa e os canais televisivos privados.
A experiência diz-nos que quando o dinheiro falta a isenção e a independência vão minguando. O cemitério da comunicação social está repleto de valorosos baluartes da independência jornalística. Por outras palavras: para falar alto ao poder é necessário ter suficiente folga financeira. E isto é tanto mais verdade num país como Portugal, onde o poder político vive em conúbio com o poder financeiro ou pelo menos tem como ele uma especial relação de cumplicidade. Isso coloca a generalidade dos órgãos de comunicação social na posição em que não gostam de ser vistos: de mão estendida!
Imprensa, rádio e televisões estrangulados ou dependentes de ajuda financeira não ajudam à liberdade de imprensa. Talvez por isso alguns projectos jornalísticos exclusivamente digitais, provavelmente menos condicionados financeiramente, sejam os únicos (ou quase) a resistir a esta vaga de ilusionismo que nos pinta o país em tons de rosa, quando essa não é, infelizmente, a cor da floresta depois de arder…
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.