Ao longo das últimas três décadas, Portugal foi construindo um sistema científico e tecnológico de qualidade, com atores e competências diversificadas. Produziu-se novo conhecimento, investigadores de excelência, aumentou-se a publicação de papers (incluindo em coautoria com autores de outros países), registaram-se novas patentes. Aumentaram as redes de colaboração com entidades internacionais em ciência e em investigação, estimulando a mobilidade do conhecimento. Também nas últimas décadas foram criadas políticas para estimular a transferência de tecnologia e conhecimento das entidades do ensino superior para o mercado, mas também apoiada a criação de empresas de base académica e científica (spin-offs).

Hoje temos um sistema científico e tecnológico competitivo, que atrai investigadores, alunos e investimentos internacionais em áreas de conhecimento avançado. De acordo com o World Economic Forum, Portugal subiu oito lugares nos últimos oito anos no que respeita à qualidade das instituições científicas e tecnológicas (33º lugar em 2008 para 25º lugar a nível mundial em 2016).

Do lado do “mercado”, as políticas públicas direcionaram, numa primeira fase, apoios públicos para o investimento em I&D e inovação (quer através de incentivos fiscais quer financeiros). Numa segunda fase, reforçaram-se os apoios à qualificação empresarial (organização, gestão, qualidade, etc.), bem como foram promovidas as redes de colaboração entre empresas e entre estas e entidades produtoras de conhecimento avançado. Por exemplo, a opção política por apoiar a criação/consolidação de clusters (em 2009, reforçada já este ano) tem contribuído para acelerar o desenvolvimento de novos produtos e serviços (mais inovação). Foram também lançados programas mobilizadores, em copromoção, ou programas de demonstração tecnológica, contribuindo para uma inovação mais aberta e inclusiva.

Nos anos mais recentes, são mais evidentes os apoios direcionados ao empreendedorismo, à criação de startups e à capacitação empresarial, incluindo financiamento público a mecanismos de capital de risco e a business angels (a Web Summit mostra que Portugal é já hoje um país de referência nestas áreas).  Estes progressos refletem-se no posicionamento internacional de Portugal em termos de inovação: Portugal passou de 22º (2006) para 14º país mais inovador da União Europeia em 2017.

Estamos no bom caminho, mas muito há ainda para fazer. Primeiro, é importante que as políticas públicas continuem este esforço que tem havido para a ciência e a inovação. Não só ao nível do financiamento, como também da articulação e governance do sistema de inovação e na sua abertura e internacionalização. Mas também ao nível da criação de “evidência” sobre a pertinência e impacto dos vários instrumentos e políticas desenvolvidas nos últimos anos, evitando redundâncias e aproveitando melhor os recursos públicos.

Depois, a definição clara de prioridades estratégicas nacionais a longo prazo (para a próxima década), que mobilizem as políticas e os atores do sistema, bem como um maior aproveitamento do potencial do Estado enquanto agente de promoção da inovação. Por fim, uma maior capacidade de mostrar e “vender” internacionalmente o que sabemos fazer e o nosso potencial de investigação e de inovação (e, com isso, atrair novos investimentos), afirmando-nos como país relevante e parceiro fundamental na resolução de problemas societais à escala global (como as alterações climáticas, a mobilidade sustentável, a energia limpa, o envelhecimento ativo ou a segurança alimentar).