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O que fez acelerar a economia para 2,7%? Investimento e exportações

O aumento da confiança do agentes económicos e condições de financiamento mais favoráveis levaram a um disparo no investimento, que terá sido o maior impulsionador de um crescimento do PIB que não se via há 17 anos. As exportações foram relegadas para segundo plano, mas mantêm uma posição de destaque.
Peter Nicholls/Reuters
15 Fevereiro 2018, 07h15

Portugal não via um crescimento económico anual como o de 2017 desde o início do século, superando as expetativas do Governo. O produto interno bruto (PIB) acelerou 2,7% no ano passado, após 1,4% em 2016, acumulando uma série de 17 trimestres consecutivos de crescimento e os principais impulsionadores foram a retoma do investimento e o aumento das exportações nacionais.

A estimativa rápida foi publicada esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e será confirmada no dia 28 de fevereiro, altura em que será conhecido o peso de cada componentes do PIB. O relatório do INE explicou, no entanto, que “a evolução resultou do aumento do contributo da procura interna”, ou seja, consumo privado, consumo público e investimento.

A tendência já era esperada pelos analistas e instituições, com o Banco de Portugal a projetar um aumento do investimento de 8,3%. Os economistas do Montepio Rui Bernardes Serra e José Miguel Moreira são ainda mais otimistas e estimam “uma subida do investimento (FBCF) na ordem dos 9,4% em 2017, depois de ter abrandado significativamente no ano anterior (1,6% em 2016)”.

A retoma do segmento terá sido “suportada pelos financiamentos por parte de fundos comunitários (v.g. Plano Junker), alguma recuperação da construção e continuação da recuperação do investimento empresarial em equipamentos”, afirmam.

Turismo e imobiliário contribuem para o bom momento

O disparo no investimento levou as exportações para segundo plano, mas ainda assim “um dos maiores crescimentos anuais em 2017”, segundo Bernardes Serra e Moreira.

Filipe Garcia, economista e presidente da IMF – Informação de Mercados Financeiros clarificou que a subida das exportações resulta do bom momento económico dos parceiros comerciais de Portugal e também no “espetacular” desenvolvimento do turismo. No entanto, lembra que o país continua a não conseguir alcançar um excedente da balança comercial.

“Trata-se de uma evolução positiva que continua a resultar de uma conjuntura muito favorável: política monetária expansionista, taxas de juro muito baixas, melhoria do rating e da situação da banca nacional e com a economia mundial e europeia a crescer de forma sustentada. Os nossos principais parceiros: Espanha, França e Alemanha atravessam um bom momento”, afirmou o economista.

“Por outro lado, o setor do turismo em Portugal continua em crescimento acelerado, o que a par dos outros fatores leva a que tenha aumentado muito o número de novos projetos e que influencia de forma positiva o setor imobiliário”, acrescentou Garcia.

Emprego a subir e dívida a descer

Com a divulgação dos números da economia, o mercado de trabalho foi um dos temas em destaque, com o ministério das Finanças a referir que a expansão do PIB em 2017 foi acompanhada de “uma evolução sólida do mercado de trabalho”. Com mais 161 mil empregos e menos 121 mil desempregados do que em 2016, a taxa de desemprego caiu para os 8,1%.

Por outro lado, a deputada do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, pediu ao Governo que visse o crescimento económico como um alerta de que deve ir mais longe na devolução de rendimentos, proteção do trabalho e aumento dos direitos laborais.

Paulo Rosa, economista e senior trader do Banco Carregosa, sublinha a importância da barreira quebrada no ano passado para o mercado de trabalho.

“Um crescimento acima de 2% é bastante positivo, porque é a partir deste patamar que a economia tem espaço para criar emprego com maior facilidade, devido ao aumento dos investimentos por parte das empresas, que vêem os cash-flows subir, e ao aumento do consumo através do acréscimo de rendimento disponível”, explicou.

Acrescentou que também a dívida pública irá também diminuir em termos nominais, já que é medida em termos de rácio face ao PIB. “Com a subida do PIB, e tudo o resto constante, o nosso endividamento de 130% do PIB acaba por descer. Em termos absolutos, quanto maior for a riqueza gerada para pagar a dívida pública, menor o risco de incumprimento”, explicou Rosa.

Economia desacelera em 2018. A dúvida é se cresce mais ou menos que a zona euro

Depois de 2017 ter sido um crescimento económico que coloca Portugal “em convergência real com a Europa, pela primeira vez, desde a adesão ao euro”, nas palavras do Primeiro-Ministro António Costa, o consenso entre Governo e instituições nacionais e internacionais é que este ano seja de desaceleração.

A projeção mais conservadora é a do Fundo Monetário Internacional (FMI), nos 2%. O Executivo aponta para um crescimento de 2,2% em 2018, o mesmo valor que a Comissão Europeia. No entanto, discordam sobre se ficará acima ou abaixo da média da zona euro. Em 2017, Portugal superou o bloco (cujo PIB cresceu 2,5%) e Costa espera que a tendência se mantenha. No entanto Bruxelas, espera que a zona euro cresça 2,3% em 2018.

O economista do ING, Steven Trypsteen, considera que depois “um final de ano forte, a história de crescimento deverá continuar em 2018”, alinhando a estimativa de crescimento do PIB com a do FMI.

“Com o regresso da utilização de capacidade para níveis pré-crise, espera-se um forte investimento privado. Emprego robusto e crescimento dos salários poderão continuar a suportar o consumo privado, apesar de considerarmos que irá suavizar ao longo do tempo, já que a elevada elasticidade do emprego face ao PIB parece insustentável”, acrescentou o economista do banco holandês.

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