Esta semana decorre em diferentes espaços da cidade de Lisboa o Fórum do Livro de Macau. A par de uma feira do livro na Delegação Económica e Cultural de Macau, decorrem outras iniciativas como conferências sobre diversos temas, da literatura e história ao direito, e eventos culturais. A ideia é divulgar a contemporaneidade de Macau, sem esquecer os laços históricos que Portugal tem com o território.
Nesse sentido, amanhã realiza-se um evento em torno da poesia que, começando com a homenagem a Camilo Pessanha, percorre os caminhos do que têm sido os últimos anos poéticos de Macau. Com a presença do Ministro da Cultura português, Luís Filipe de Castro Mendes, tem por objetivo aglutinar literatura e performance de modo a oferecer um momento cultural único e representativo daquilo que se tem escrito em Macau.
Apesar de apenas terem passado 17 anos sobre a transição da administração de Macau, este espaço passou a ser um ilustre desconhecido, raramente entrando na realidade dos portugueses. Esta iniciativa traz, no entanto, a possibilidade de divulgar conhecimento sobre Macau e de avivar necessidades antigas como a de um fortalecimento na lusofonia através da circulação de bibliografia editada nos vários espaços linguísticos que falam português ou o mantêm como língua oficial.
Esta operação de charme da sociedade civil macaense – a organização do evento está a cargo da Associação de Amigos do Livro em Macau, em parceria com outras instituições – é um excelente exemplo de diplomacia cultural. Contudo, não existe, nem pode existir, diplomacia cultural quando a circulação de materiais impressos ainda é taxada de forma elevada. Tampouco faz sentido assinarem-se acordos ortográficos que visem a adaptação da língua aos vários contextos em que é falada se não forem acompanhados de medidas de livre circulação de livros ou de pouco taxada circulação de livros.
Dificilmente se poderá construir uma comunidade linguística se parte do seu suporte circula ainda com dificuldade entre os vários espaços que a compõem. Em países e territórios com fraca capacidade de projeção cultural internacional, isso implica que impere o desconhecimento sobre a produção intelectual dos vários espaços, mesmo que partilhando uma língua e uma história comuns. Mais impede que haja interesse, por exemplo, pelas artes performativas que cada um destes territórios tem para oferecer.
Por isso são tão importantes estas ações de diplomacia cultural. Aliás, esta iniciativa poderia e deveria ser replicada ao nível da lusofonia e, se possível, repetir anualmente. Só assim se ganharia consciência daquilo que vamos produzindo e poderíamos ler em português. Só assim se poderia constituir uma verdadeira comunidade linguística e uma consciência sociocultural virada para o presente em vez do passado. Porque qualquer um dos territórios que ainda mantêm o português como língua são presente e não uma conquista do passado.