Nos últimos anos, debatíamos com fulgor os benefícios de uma maior flexibilidade e equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. Propunham-se alternativas laborais ao Governo que ajudassem a conciliação entre a carreira e a família e estabelecíamos, em algumas das nossas empresas, um ou mais dias por semana para trabalhar a partir de casa. Mas não sabíamos que o teletrabalho poderia tornar-se tão desgastante.

São muitas as empresas que, hoje, entram nas casas dos portugueses e fazem delas as suas instalações, muito embora não tenhamos tido a capacidade para as preparar, e aos seus colaboradores, para uma adaptação tão rápida. Transformámos os quartos em escritórios e as salas de estar em open spaces onde, por vezes, não só trabalham os adultos como estudam as crianças. Rapidamente sentimos os desafios que o teletrabalho acarreta e as empresas e instituições foram, assim, obrigadas a adaptar as suas funções para se estabelecerem a partir dos nossos lares. Mas, se farão parte deles, então, deverão contribuir.

Desde logo, a prioridade passa por dotar os colaboradores das ferramentas necessárias para o teletrabalho. Um dos custos que poderiam ser suportados, como o Ministério do Trabalho já sinalizou, e bem, é a internet. Segundo o Código do Trabalho, as empresas devem assegurar o acesso às tecnologias de informação e comunicação.

Por outro lado, é fundamental garantir o bem-estar dos colaboradores. E isso pode passar por pequenos gestos que fazem a diferença, impulsionando a produtividade e felicidade no trabalho. Apostar na valorização dos tempos livres é um exemplo. Outro é a promoção do convívio à distância com os colegas, mantendo um contacto recorrente extratrabalho.

A nova realidade da maioria das pessoas veio esbater a fronteira que separa o profissional do pessoal.

Afigura-se essencial manter o diálogo aberto entre as instituições governativas e as empresas, que enfrentam várias dificuldades nesta adaptação ao teletrabalho, enquanto, muitas delas, se debatem, simultaneamente, com elevadas perdas nos seus negócios. Não basta cerrar fileiras ante os apelos da Saúde. Não é sempre necessário ter imposições salomónicas.

O diálogo e articulação do Governo com as empresas têm permitido ótimas soluções face ao complexo contexto em que o combate à pandemia nos deixou. Esta nova realidade é transversal às várias áreas da governação e parece evidente o esforço, a cada novo estado de emergência, em ouvir e rever medidas anteriores. Sublinhe-se o diálogo do Ministério da Economia, bem como o do Ministério das Finanças, através das secretarias de Estado da Defesa do Consumidor e Assuntos Fiscais, na articulação de algumas medidas a adotar ou rever.

É inegável que os regimes de trabalho à distância vieram para ficar. Parciais ou completos, ocupam agora um espaço que há muito se desejava ver regulamentado. Mas caberá a cada empresa e ao Governo tornarem as suas diretivas ágeis e colaborativas, na certeza de que só assim sairemos todos deste capítulo mais fortes e preparados.

Com condições bem estabelecidas, podemos deixar a empresa viver cá em casa.