73.856 euros. Este é o valor que a associação Capazes recebeu no âmbito do Programa Operacional Inclusão Social e Emprego (POISE) para fazer quatro (4) ações de formação dedicadas ao tema da igualdade de género. Aqui não se trata ainda de opinião, mas de factos confirmados pela Presidente da Associação Capazes, Rita Ferro Rodrigues.
Agora começa a opinião. Não é fácil uma mulher ousar opinar negativamente sobre “lutas de mulheres”. No entanto, sendo tão mulher como as “Capazes”, arrisco dizer que não me revejo, minimamente, na “luta” de um movimento que elege para o seu site temas como “Devem os homens ajudar lá em casa?”, ou exibem crónicas que relacionam o sexo precoce com “meninos que espreitam por baixo das saias”, ou ainda – o meu preferido – “histórias de adormecer para raparigas rebeldes”.
73.856 euros. Sensivelmente 18.464 euros por conferência. “E acho pouco”, palavras de Rita Ferro Rodrigues. Ora, convém lembrar que uma conferência no melhor hotel de Lisboa para o mesmo número de pessoas custa metade. Ao contrário de Rita Ferro Rodrigues e das Capazes, as empresas trabalham com orçamentos porque os euros que investem em marketing e comunicação saem dos resultados financeiros obtidos. E cada euro é gasto com ponderação. Bem sabemos que, quando o tema é dinheiro público, a mesma disciplina não se aplica. Confesso: como mulher contribuinte isso chateia-me.
Ainda assim, foi muito positivo termos sabido que a Associação Capazes – que se assume como feminista em lugar de igualitária – foi brindada com quase 74 mil euros para organizar conferências no Alentejo para discutir o tema da igualdade de género envolvendo youtubers conhecidos e mobilizadores, o que nos pode levar a perguntar se os miúdos “que encheram auditórios” lá foram porque quiseram refletir sobre o tema ou se, simplesmente, foram ver as estrelas da internet.
Foi bom porque agora podemos começar a fazer um debate sério sobre o destino dado aos fundos comunitários que comparticipamos com dinheiros públicos – e vários milhões. A pergunta a fazer, quando vivemos num contexto de escassez de recursos financeiros, é se temos a certeza que estamos a empregar os recursos públicos nos projetos que mais beneficiam a nossa sociedade. Dizer que a Igualdade de Género é um tema fundamental ninguém discute. Dizer que as Capazes são o embaixador certo e que merece, repito, quase 74 mil euros, é altamente questionável.
Gastar 74 mil euros num mau projeto que faz um mau serviço ao desígnio louvável da igualdade de género é insultuoso para todos os bons projetos que deixam de ser visados nos apoios públicos, provavelmente porque são menos “fancy”. Faz-nos questionar que critérios são usados para atribuir os milhões que chegam de Bruxelas, financiados parcialmente pelo orçamento nacional. O caso da Capazes relembra isso mesmo mas, acima de tudo, deve servir de mote para um escrutínio sério do que andamos a apoiar.