Os oitavos-de-final do campeonato do Mundo de futebol mais equilibrado de sempre afastaram outros três (ex)candidatos (Portugal, Espanha e Argentina, que assim se juntaram à Alemanha) e confirmaram o Brasil como o maior dos favoritos a vencer a prova.
O Brasil tem tudo mas, acima de tudo, tem agora um treinador. Tite é o grande reforço. Não tem nada a ver com o folclórico Scolari, nem sequer com Dunga. É, claramente, um homem do futebol realista, de alta competição. Com ele, o Brasil ataca e defende. Se for preciso, como se vê, senta Marcelo no banco (joga Filipe Luís). Acabou com o equívoco de David Luis, um defesa que (além de chorar demasiado) defende mal. Tem hoje Casimiro a estabilizar e Paulinho a verticalizar no míolo, segurando a ala criativa – e, se for preciso, ainda há Fernandinho (que ficou muito marcado pelos 7-1 da Alemanha, há quatro anos). Com um esquema em que até Fágner (defesa-direito que o treinador conhece bem da passagem pelo Corinthians) suplanta o ex-portista Danilo e faz esquecer Dani Alves (lesionado antes da competição), o Brasil joga em bloco. Miranda, aos 34 anos, chegou finalmente à equipa numa grande prova e para ser um dos capitães, formando uma das melhores duplas de centrais do mundo com Thiago Silva. O guarda-redes Alisson tem muita qualidade e é soberbo a jogar com os pés. Com tudo isto, pode libertar-se o talento. E não é só a ‘estrela’ Neymar. Também Philippe Coutinho e Willian estão o jogar a um nível muito alto no apoio a Firmino, um dos três grandes do ataque do Liverpool (com Salah e Mané).
O Brasil é favorito mas tem dois ossos duros até chegar à final. O primeiro é a Bélgica, que se chegou a assustar com o Japão. O segundo será a França, se esta se desenvencilhar, como se espera, do Uruguai (que não deve ter Cavani recuperado). Gosto da França, pelo equilíbrio de Kanté, a força de Pogba e o ‘foguete espacial’ Mbappé. Falta-lhe, no entanto, fantasia. O jogo é muito linear, musculado e nem todas as equipas são adversários fraturados, como a Argentina. Vêm aí jogos que pedirão outra capacidade de circulação. Veremos… Até se há, ou não, Griezmann.
Do lado contrário do quadro, sem a Espanha, os maiores candidatos a chegar à final são agora a Croácia (que defrontará a Rússia) e a Inglaterra (jogará com a Suécia), que finalmente colocou um ponto final na ‘maldição’ das grandes penalidades e com Eric Dyer, grande jogador formado no Sporting, a cobrar a última, sem pressão.
A ronda em que Portugal saiu (jogando o seu melhor futebol no Mundial, sob a batuta de Bernardo Silva), gerou um grande desconforto na seleção espanhola. Independentemente de ter ficado por assinalar uma evidente grande penalidade sobre Piquet, que talvez desse outro resultado que não a qualificação da Rússia, a sina de Espanha foi cair de rendimento desde a estreia, mostrando como a saída de Lopetegui fragilizou a direção da equipa. Hierro não convenceu – e será substituído, falando-se já em nomes para a sucessão: Luis Enrique, Michel, o ex-benfiquista Quique Flores e até na possibilidade de Xavi Hernandez, jogador de Jesualdo Ferreira no Qatar e que nunca treinou qualquer equipa. Começará agora a última fase de saída dos sobreviventes das três grandes conquistas (dois Europeus e um Mundial). Piquet e Iniesta já o anunciaram, David Silva pode ser o próximo. Sobrará Sérgio Ramos, apenas.
Os grandes jogos desta fase foram dois: o França-Argentina, acima de todos, pela fantástica explosão de Mbappé e o Japão-Bélgica, pela recuperação dos pupilos do catalão Roberto Martinez, que estiveram a perder por 2-0 até mais ou menos um quarto de hora do fim. Para quem conhece o futebol japonês não houve surpresa. Eles jogam melhor a cada ano que passa, mas são sempre leais e demasiado generosos em todos os momentos. A jogada em que sofreram a derrota, nos últimos segundos, é uma amostra dessa generosidade e entrega ao jogo, às vezes demasiado juvenil, que no futuro vai ter de fazer uma parceria com o mundo real para a equipa aspirar a mais do que ser com regularidade a melhor da Ásia.
A competição vai, entretanto, formatando os seus destaques individuais. O Dinamarca-Suécia foi duelo de guarda-redes. Primeiro, brilhou Schmeichel, Kasper, filho de Peter. Tem a personalidade do pai. Mas Subasic, o homem de Leonardo Jardim, no Mónaco, fez-lhe companhia. Dois homens mentalmente fortes para situações extremas.
A Colômbia não anda com muita sorte em fases finais. Em 2014 não teve Falcão. Agora, no jogo mais importante, não teve James. Mas quase ia chegando, sob a liderança do central Mina, suplente de luxo do Barcelona. Três golos em três jogos.
E, depois, há Harry Kane, mesmo que dos seus seis golos três tenham sido marcados de grande penalidade. Entre ele, Mbappé e Neymar deverá sair o MVP desta prova.
Não se deve colocar a Croácia, batida por Portugal no último Europeu, de fora deste filme de suspense em que a maior prova do futebol se transformou na era VAR. Nem a Inglaterra, de futebol chato e previsível mas sempre intenso. De qualquer forma, como já antes da prova começar, o Brasil é o adversário a abater. A equipa mais preparada e melhor apetrechada. Bélgica e França terão a sua oportunidade agora. O jogo da final, visto à distância, parece ser sempre menos atrativo do que esses dois.