O golo de Quaresma foi o único raio de talento que iluminou o jogo medíocre da seleção de Portugal. Excepto esse lance, tudo foi mau, lento e previsível na exibição da equipa de Fernando Santos, na qual até Cristiano Ronaldo, que desta vez pouco se viu, imitou Messi falhando um penalty (52).
A noite de mau futebol podia mesmo ter terminado com um descalabro. Já no período de descontos, num momento Portugal vencia por 1-0, era primeiro do Grupo B porque a Espanha perdia por 1-2 com Marrocos, e ia jogar com a Rússia no melhor lado do quadro; no momento seguinte o VAR dava como legal um golo de Yago Aspas para a Espanha, que empatava (2-2), e descobria um penalty num lance de Cédric. Mau? Não, podia ter sido pior: Taremi, frente a Rui Patrício, descaído pela direita, rematou às malhas laterais nos últimos segundos. O empate (1-1) resistiu por muito pouco.
Incrível a falta de capacidade da equipa de Portugal para liquidar o jogo quando o poderia ter feito. Salvou-se a qualificação, que era o mais importante, mas para jogar (com a eficaz equipa do Uruguai, que ‘limpou’ o percurso com três vitórias e 5-0 em golos) no lado do quadro em que estarão, presumivelmente, a maior parte dos ‘tubarões’ se a lógica se impuser nas jornadas finais dos vários grupos.
Este jogo vem deitar um balde de água fria nas aspirações portuguesas. A equipa podia e devia ter feito bastante melhor, por muito que este grupo fosse perigoso, como ficou demonstrado. Marrocos é uma equipa de qualidade. O Irão tem menos capacidade de chegar à frente mas é muito evoluída taticamente e fez uma boa prova.
Na abordagem ao jogo, Fernando Santos adivinhou que o Irão não iria deitar fora as rotinas habituais contra equipas superiores: esperar lá atrás, onde costuma construir uma espécie de jaula para fechar o adversário. Por isso apareceu André Silva em vez de Gonçalo Guedes e até a surpresa de Quaresma no lugar que tem sido de Bernardo Silva. A intenção foi abrir a frente o mais possível. Arranjar bom serviço para os homens na área. A ideia ficou no papel.
Adrien em vez de Moutinho pode ter sido consequência do desgaste imposto por Marrocos no confronto anterior. Pode ter sido melhor pelo lado físico mas a equipa sentiu a falta dos passes de ruptura que Moutinho de vez em quando descobre. Adrien é melhor para jogos que exigem mais recuperação. E desta vez o médio do Leicester não conseguiu meter um único passe que desequilibrasse ou rasgasse as linhas adversárias.
A seleção portuguesa está com um défice de criatividade. É muito previsível na sua forma de jogar. Talvez por efeito de não ter conseguido ter bola no jogo anterior, utilizou uma espécie de tic-tac elementar, com os jogadores demasiado parados, que nunca conseguiu descobrir fissuras na teia defensiva do Irão ou retirar de posição os seus jogadores. O único momento em que isso aconteceu foi no lampejo de mais uma trivela de Quaresma, a esfregar a lâmpada com o seu décimo golo na seleção. Um lance saído do nada.
A segunda parte teve um VAR muito protagonista, com o árbitro a ajuizar as imagens sempre bem – no penalty que Cristiano Ronaldo perdoou; na apreciação de uma eventual agressão de CR, que não o foi mas mereceu o cartão amarelo pela tentativa impetuosa com que tentou ganhar posição; no penalty concedido ao Irão (sim, Cédric não podia ter a mão àquela altura).
De repente os astros viraram-se contra a falta de nervo da seleção nacional, de onde Quaresma saiu mal disposto com a substituição, na qual o cartão amarelo deve ter pesado. Quaresma com amarelo não é a mesma coisa que Raphael Guerreiro. Teoricamente, sim; na prática pode sempre ser um desastre. Fernando Santos evitou esse mas não conseguiu evitar o do resultado. Aguardou durante demasiado tempo, jogando com o marcador do Espanha-Marrocos. Normalmente resultaria, é verdade. Mas esta foi a excepção que confirma a regra. E quando o treinador nacional quis mexer – fez entrar Gonçalo Guedes, para aproveitar o tudo ou nada do Irão – já era tarde (para ganhar o grupo).
Fernando Santos não fez nada de mal. Sempre foi um conservador, não é um revolucionário. E agora também não vale a pena chorar sobre o que este jogo poderia ter sido. O melhor é esquecer e começar a tentar perceber como se ultrapassa a sólida equipa uruguaia, adversário intransponível para a Rússia (3-0), que brilhou face a adversário menores mas que já foi devolvida ao estatuto que tinha antes deste Mundial: uma equipa média, sem demasiados rasgos. Já o Uruguai tem uma das melhores duplas atacantes da prova, com Luis Suarez e Cavani. Portugal tem de melhorar e conseguir fazer um jogo mais fluído. Sinceramente, depois de termos visto em ação os médios quase todos (só falta Manuel Fernandes) torna-se difícil imaginar como se pode conseguir isso. Mas pode ser que haja de novo Cristiano Ronaldo. Contra o Irão não houve.