O mais recente alerta deixado pelo Deutsche Bank quanto a possíveis perdas derivadas da valorização do euro e do aumento dos custos de financiamento numa das suas unidades de negócio, deve servir de sério alerta para o Eurogrupo, BCE e Mecanismos Únicos de Resolução e de Supervisão envolvidos no processo da União Bancária. Este alerta teve como consequência a subida do risco do banco, a queda das acções para níveis preocupantes e o despertar dos investidores para problemas que persistem embora pouco se discutam.
Com efeito, os anos passam e apesar do sistema financeiro realizar sucessivos aumentos de capital, sacrificar os seus accionistas, reduzir custos, optimizar as suas operações e aumentar a sua resiliência, nada parece ser suficiente para estabilizar definitivamente o sector financeiro europeu.
O enquadramento político e a demora em implementar a União Bancária, nomeadamente a criação do Fundo de Garantia de Depósitos Europeu e a dotação dos mecanismos de resgate com recursos efectivos hoje, não ajudam a restabelecer a confiança no sistema financeiro.
As contribuições feitas pelo próprio sistema financeiro, que totalizarão 54 mil milhões de euros em 2024, são uma brincadeira em face das necessidades reais em caso de apoio, bastando para isso lembrar as perdas do Estado espanhol na leve intervenção do seu sistema financeiro.
O crédito malparado europeu ainda não tem qualquer solução europeia, muito menos na exposição dos bancos italianos a activos tóxicos. E apesar da Grécia parecer um evento longínquo, a exposição dos bancos regionais alemães a este tipo de dívida, poderá revelar-se problemática caso os mercados financeiros iniciem um ciclo de desconfiança.
A estes riscos há que acrescentar o aumento da dívida mundial, em especial a americana que bateu um novo recorde: 21 biliões de dólares, dos quais um bilião, ou 5%, apenas nos últimos seis meses.
Ora, o crescimento da dívida superior ao PIB traz consigo o acumular de desequilíbrios e uma maior exposição do sector financeiro e dos agentes económicos a um risco que será materializado na próxima recessão, com custos inimagináveis. A acumulação de dívida num contexto de subida de taxa de juro irá diminuir a capacidade de investimento do governo americano. A alternativa será maior défice e endividamento das gerações futuras. Mais. Nas suas projecções, o Congresso americano prevê uma subida da dívida publica para 160% do PIB até 2050, o que significa que o sector financeiro estará exposto a um risco adicional.
Tudo indica que caminhamos para um período complicado, sendo que Portugal e a Europa devem acelerar o seu trabalho de casa e dotar a economia e as suas instituições de bases sustentáveis, aplicando reformas e diminuindo a sua dívida pública. Não há outro caminho.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.