Há quem questione as opções tomadas pelo Governo socialista, onde sobressaem as políticas que devolvem rendimentos e puxam pela procura interna, mantendo uma aposta decisiva nas exportações mas não a fazendo depender do empobrecimento do país, i.e., da redução média dos salários, como forma de ganhar competitividade externa. Para esses, os dados mais recentes, que dão conta de um crescimento económico inferior ao previsto, demonstram que esta opção está a falhar.
São dúvidas compreensíveis, mas cujo debate está contaminado por um excesso de entusiasmo demagógico e de fervor ideológico! Na prática, convenhamos, a crítica ao actual Governo é infundada porque, em nenhum momento da vida económica dos últimos 30 anos, verificamos o caso (desejável) de um PIB a crescer com contas externas positivas. Portanto, é aqui que reside o busílis e é por aqui que urge projectar uma trajectória para o país. Um caminho diferente que se baseia em três ideias chave: 1) não há retoma em Portugal sem procura interna; 2) não há melhoria sustentável nas exportações com empobrecimento; 3) o PIB tem de crescer com o contributo crescente das exportações líquidas.
Mas estes princípios, por si só, não adiantam grande coisa. Mostram um raciocínio mas não identificam a solução. Por isso, é preciso ainda introduzir um eixo central para o sucesso desta política: o processo de industrialização do país. A aposta inquestionável no potencial da indústria. Na prática, sem um plano de industrialização do país, como paradigma da política económica portuguesa, não é possível obter os dois grandes objectivos a que o Governo se propôs: crescer o produto ao mesmo tempo que mantém as contas externas equilibradas, ou seja, ao mesmo tempo que as exportações líquidas (exportações-importações) são positivas.
Sendo assim, porque pragueja tanto a direita? O que conseguiu, nesta matéria, nos quatro anos de governação? Entre 2010 e 2015, o aumento do PIB só ocorreu quando se verificou o aumento da procura interna: em 2010 o PIB cresceu 1,9%, a procura interna também cresceu 1,9%; em 2014 o PIB cresceu 0,9%, a procura interna cresceu 2% e, finalmente, o PIB cresceu 1,4% em 2015, com a procura interna a crescer 1,9%. Nestes anos, a procura externa foi sempre negativa e o contributo das exportações para o PIB foram sempre negativos. Foi apenas nos anos em que o PIB caiu (2011, 2012 e 2013) que o contributo da procura externa foi positivo. Mais. Nas últimas três décadas, sempre que as contas com o exterior foram positivas o país estava em recessão, porque a procura interna caiu a pique.
É este o nó górdio da economia portuguesa. É por isso que, para desatá-lo, é preciso um plano que permita assegurar que, quando o PIB crescer, as importações não disparam de tal forma que anulam o contributo das exportações e comprometem as contas externas. É aqui que entra a necessidade de um plano de industrialização para o país, que também facilite uma política de substituição de importações. Em boa verdade, as exportações têm de crescer mais e acompanhar o padrão da economia portuguesa de modo a torná-las sustentáveis. Queremos um contributo da procura externa no PIB, alinhado com a média dos países mais competitivos, mas para isso precisamos de diversificar a economia e apanhar o comboio da industrialização.
O autor escreve segundo a antiga ortografia.