Estamos próximos de uma mudança radical da conjuntura internacional. Desde o final da Guerra Fria que não se adivinhava uma alteração tão forte nas relações dos vários poderes internacionais. Não se trata apenas da eleição de Donald Trump e do seu olhar sobre o mundo. Trata-se também dos poderes populistas emergentes na Europa, da radicalização da guerra e do terror no Médio Oriente, da afirmação de potências até agora consideradas regionais e da necessidade de imprimir novas dinâmicas a organizações internacionais com um papel importante no mundo, como a UE e a ONU.

A tendência atual será para a fragmentação na UE ou, no mínimo, para o afrouxamento dos laços entre estados-membro, e para uma aposta no bilateralismo dos EUA. Em simultâneo, os BRIC, constituídos por África do Sul, Brasil, China, Índia e Rússia, estão a ganhar poder seja porque asseguram um crescimento económico interno e um investimento externo cada vez mais interessantes, seja porque conseguem posicionar-se geoestrategicamente em termos de política internacional, o que leva a um reequacionamento dos equilíbrios externos.

Donald Trump terá de lidar com uma maior volatilidade de forças num país que pretende virar para dentro. Corre o risco de fazer o contrário do seu slogan: a “América” em termos internacionais poderá ficar bem mais pequena. Ao tentar reverter e agitar a política externa norte-americana, sobretudo olhando como empresário para os supostos interesses do país que a partir de hoje governa, estará a criar pontos de fricção política em temas que nunca existiram e que trarão consequências profundas a médio prazo. Ao fazer da imprevisibilidade uma arma política interna e externa, Trump torna as suas relações menos calculáveis e deixa um espaço para o desconhecido, que já não se baseará na procura do equilíbrio de forças.

Portugal, como pequeno país, inserido num quadro político internacional de mudança, tem de gerir as suas novas alianças e procurar diversidade. A visita de Estado do primeiro-ministro, António Costa, à Índia traz bons indícios, porque se enquadra numa visão de diversificação de parcerias externas. Recuperando uma relação antiga, aposta no presente e no futuro, apostando no investimento e comércio recíprocos e forjando novos entendimentos que se estendem das áreas agroalimentares às áreas das tecnologias de ponta e à indústria da defesa, prevendo até a criação de um roadmap para o comércio e investimento, aquando da quarta sessão do Comité Económico Conjunto.

Mais, se aliada à recente visita da equipa governamental à República Popular da China e à receção do Presidente brasileiro por ocasião das exéquias de Mário Soares, percebemos que está a ser feito um périplo por alguns dos estados BRIC, fazendo uso dos laços históricos na projeção do presente e do futuro. Assim, a tecnologia, a ciência, o empreendedorismo, as energias renováveis e a preservação da memória de relacionamento entre os povos tornaram-se pontos permanentemente presentes na agenda desenvolvida com estes Estados. E, afinal, Brasil, China e Índia foram rotas essenciais quando Portugal procurou o descentramento face à Europa. Reabilitá-las é um sinal de maturidade da política externa portuguesa, num contexto em que, por exemplo, a China reedita parte das rotas marítimas portuguesas do Oriente enquanto restabelece a nova Rota da Seda.