Começamos agora aquele que promete ser um dos anos mais marcantes dos tempos recentes. 2017 vai ser um ano de profundas mudanças e acredito que será o ano fundador de uma Nova Ordem Mundial.

Em termos de ordenamento dos poderes do mundo, temos vivido claramente entre a indefinição e o caos. A ordem unipolar, que se seguiu à bipolarização conhecida e previsível dos tempos da Guerra-Fria, provou que o mundo não pode ser regulado segundo o critério variável das administrações americanas, os interesses pouco consolidados, e sem tradição no quadro internacional, de paises emergentes e a influência absolutamente desproporcionada e desregulada do grande capital transnacional sem rosto, nem imputabilidade.

A economia e a finança terão sempre o seu papel no mundo, condicionarão sempre a sua evolução, mas o mundo ordena-se e evolui pela afirmação do poder político e pela valorização do papel dos Estados. Os Estados que mantêm esta visão, que subordinam a economia enquanto meio estratégico do poder político, são os que claramente vão liderar a Nova Ordem. A Rússia, ressurgida das cinzas, mostrou ao mundo em 2016 quem tem capacidade de liderar e intervir em conflitos internacionais de forma eficaz e clara. A China continua a crescer e a afirmar-se no mundo, usando a economia como quem usa um exército sofisticado, reforçando princípios políticos e exibindo um investimento impressivo na defesa. O Irão revela-se o penhor de estabilidade e segurança da região e um parceiro obrigatório para quem quiser condicionar positivamente o Médio Oriente.

Os Estados subordinados exclusivamente à economia, sem estratégias políticas fortes, sucumbem, apagam-se, fragilizam-se. Assistimos à ruina da Venezuela petrolífera, ao fim do sonho corrupto do Brasil de Lula e de Dilma, à confusão que remete a África do Sul a uma cada vez maior irrelevância e a India é cada vez menos tida em conta, apesar do progresso económico que ainda regista. Das grandes promessas da última década, restam a Rússia e a China, dois Estados de ancestral vocação imperial, precisamente aqueles que têm um poder político forte e regulador.

A Europa surge no quinto parágrafo deste texto porque alienou toda a importância que a poderia colocar na liderança desta Nova Ordem. Sem liderança política, viu partir o Reino Unido, provavelmente pela sua vontade de afirmação enquanto Estado, pela percepção do património político que a sua história e tradição imperial representam, pela mais-valia que constitui hoje a afirmação séria de um carácter político vincado. A Europa capitula todos os dias às mãos dos pequenos poderes que a enfraquecem, temente da ditadura do politicamente correcto, subordinada à finança, afogada em burocracia improdutiva e sem rumo.

A grande ameaça da Europa não são os actos terroristas a que temos assistido. Esta mesma Europa teve no seu seio a ameaça terrorista permanente dos sanguinários do IRA, da ETA, das Brigadas Vermelhas, do Baader-Meinhof ou das FP-25. Quer queiramos, quer não, foram fenómenos muito mais traumatizantes e complexos pela sua componente de ameaça interna. Sobrevivemos e resolvemos, porque éramos uma Europa de fortes lideranças políticas, de Mulheres e Homens de Estado.

A grande ameaça da Europa hoje é, em primeiro lugar, a sua absoluta capitulação cultural, moral e identitária; a imposição da agenda jacobina fracturante é infinitamente mais destrutiva do que qualquer louco radical ao volante de um camião. O ataque permanente aos valores cristãos fundacionais da Europa é o maior inimigo da nossa afirmação no mundo. Enquanto o acerto orçamental se sobrepuser como divisa máxima a qualquer política de segurança e defesa, estaremos no caminho da risibilidade. Com líderes fracos e titubiantes, não iremos a lado nenhum; ficaremos no autocontentamento decrépito da observação nostálgica dos tempos idos de glória.

Por fim, os Estados Unidos. A liderança segura por ausência de alternativas, foi-se. Teremos um homem de negócios quando mais precisamos de um político de excepção. Os primeiros sinais são alarmantes, da aparente aliança contranatura com Putin às ameaças politicamente criminosas sobre o conflito Israelo-Palestiniano. Confesso não querer arriscar previsões, porque espero estar profundamente errado nos meus pensamentos. Daqui a um ano veremos com mais clareza. E o mundo estará profundamente diferente.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.