I – O Infante
«Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.
Deus quis que a terra fosse toda uma,
Que o mar unisse, já não separasse (…)»
[in ‘Mensagem’, Fernando Pessoa]
A Zona Económica Exclusiva de Portugal estende-se por 1,7 milhões de quilómetros quadrados, ou seja, a área marítima nacional é cerca de 18 vezes superior à área terrestre, e alarga-se até às 200 milhas da linha da costa. Atualmente, encontra-se em análise na Organização das Nações Unidas uma proposta para extensão da plataforma continental, alargando o espaço marítimo sobre Soberania de Portugal, mais do que duplicá-la para 3,8 milhões de quilómetros quadrados. É sem duvida um grande desafio para a nossa Economia do Mar.
O potencial estratégico e económico que se abre com este alargamento do território marítimo é muitíssimo relevante para uma indústria tantas vezes esquecida e maltratada, com evidente prejuízo para todos nós. Evidente e incompreensível. Sendo Portugal reconhecido como uma nação marítima, quer pelo seu território, quer pelo seu vasto património histórico e naval que remonta à época dos Descobrimentos, como se justifica que esta indústria represente pouco mais de 3% do PIB nacional?
Transportes, portos, logística e expedição, construção, manutenção e reparação naval, pesca e aquacultura, desporto e lazer, turismo, património e cultura, defesa e segurança, energias renováveis, recursos minerais, biotecnologia. São inúmeras as atividades económicas ligadas à indústria do mar, uma boa parte delas longe, muito longe de uma exploração eficiente e rentável para o país.
É tempo de fazer emergir uma nova visão e um novo paradigma para este setor, que deverá estar assente em três pilares fundamentais e complementares: i) Conhecimento, ii) Valorização, exploração dos recursos naturais e promoção dos usos do mar e iii) Preservação dos sistemas naturais. A execução destes pilares deverá ser assegurada num quadro de desenvolvimento sustentável, garantindo às gerações vindouras não só as mais-valias económicas e o bem-estar resultante do conhecimento e dos usos, mas também um legado ambiental de qualidade.
Esta aposta na Economia Marítima, é certa e adaptada num potencial, de um Oceano de oportunidades do Mar de Portugal, que constitui um verdadeiro desígnio nacional seguro, para um futuro que todos certamente ambicionamos. Vamos acreditar.
Com os recursos que existem, teremos de estar todos, totalmente empenhados e com esperança. Porque temos gente, porque temos ambição, porque temos vontade, porque Portugal merece esse esforço de todos nós.