Falta a famigerada agência Moody’s (a agência que em primeiro lugar colocou Portugal nos níveis especulativos) acompanhar esta decisão que poderá acontecer já na próxima revisão do rating – em Setembro a agência passou a expectativa da divida lusa para “positivo”, o que indicia uma subida da notação num prazo de 12 a 18 meses. Esta será a mais importante, pois cria um consenso das principais agências internacionais em torno da credibilidade creditícia de Portugal, influenciando de uma forma muito decisiva a tomada de posições longas nas emissões que são colocadas nos mercados internacionais. Ou seja, os investidores internacionais de qualidade, de longo prazo, passam a estar praticamente obrigados a deter alguma exposição à dívida portuguesa e a mantê-la.

Nos mercados financeiros, contudo, a reação dos juros das emissões transaccionadas foi menos destacada do que na primeira revisão que foi feita, pela agência Standard & Poor’s. Isto está obviamente ligado ao compromisso que o Banco Central Europeu tem relativamente à obrigatoriedade de compra de emissões de países membros. Com apenas uma agência a permitir o acesso (a canadiana DBRS), a volatilidade em torno das emissões portuguesas era maior, e os investidores institucionais receavam uma eventual perda de confiança por parte da DBRS, sobretudo na sequência dos problemas que acossavam a Europa (que se encontram agora pelo menos mais ignorados pelos mercados) e consequente perda de acesso às linhas do BCE – como chegou a acontecer com a Grécia.

Nesta altura existem vários factores que suportam a ideia de que este caminho será fechado, e que finalmente o circuito da credibilidade financeira irá completar-se. A narrativa política anti-austeridade do actual executivo nunca passou verdadeiramente das palavras aos atos, o que permitiu a manutenção de consolidação fiscal, as reformas estruturais levadas a cabo durante o período da intervenção externa trouxeram retorno sobre a economia, e as perspectivas futuras de crescimento da zona euros indiciam que Portugal beneficiará desta conjuntura e que continuará a apresentar uma evolução favorável da economia. Por fim o sector da banca nacional progressivamente está a dar sinais de menor pressão no sector. Estes sinais positivos não disfarçam porém a necessidade de Portugal atacar alguns problemas de competitividade graves que se mantêm latentes, assim como os montantes perigosos em termos de dívida que temos colocada nos mercados internacionais. Teremos melhor credibilidade perante os credores, mas não será sensato tomar por sustentável esta melhoria das condições financeiras. O Estado necessita de manter um processo de consolidação fiscal e, ao mesmo tempo, de recuperar o estagnado ímpeto de reformas que permitam tornar o processo sustentável. O clima de taxas de juro extraordinariamente baixas não vai durar sempre, convém preparar o futuro para que o processo de ajustamento tenha resultados efetivos para as próximas gerações.

O autor escreve segundo a antiga ortografia.