Começo por recordar alguns pontos importantes sobre a vida recente do BCP. Estamos a falar de um banco de referência, com elevados padrões de inovação, excelente serviço a clientes e ética de trabalho, que quase entrou em colapso pela entrada de gestores que, por ganância e impreparação, se comportaram quais aves de rapina.
Um banco que, fruto de um imenso profissionalismo e sacrifício dos trabalhadores, com cortes salariais, congelamento de carreiras e massivas rescisões de contrato de trabalho, a lealdade dos clientes, o empenho dos contribuintes que o financiaram através de empréstimos do Estado, a resiliência de alguns accionistas que acreditaram na recuperação, e uma gestão focada e preparada, elevaram novamente o BCP a uma posição de liderança e de referência.
Em suma, quando os trabalhadores, os contribuintes, os clientes, os accionistas e os gestores perseguem um interesse comum temos uma receita de sucesso. E para isso é fundamental um elevado sentido ético, padrões morais irrepreensíveis, proporcionalidade nas decisões e empatia para com os outros. Estas são condições sine qua non para o exercício frutuoso de qualquer alto cargo de elevada responsabilidade. Aliás, como a história demonstra, a sua ausência destrói empresas e instituições que foram dominantes ou referências nos mercados.
Infelizmente, as mais recentes decisões da administração executiva do BCP parecem confirmar que esta nada aprendeu com a história ou com o passado recente. Os aumentos per capita, em causa própria, superiores a 60%, enquanto tem os salários dos trabalhadores congelados e, pior ainda, enquanto não distribui dividendos nem devolve aos trabalhadores os ‘valores retidos’ aquando da redução temporária de vencimentos, correspondem a um perigoso desrespeito pelo bem comum.
Qual cereja em cima do bolo, a administração executiva do BCP propõe uma dotação extraordinária para os fundos de pensões dos administradores de 612 mil euros por cada membro da equipa cessante, sem que tal generosidade tenha sido aplicada aos trabalhadores.
Ora, com comportamentos tão desprovidos de sentido ético e de razoabilidade, os inimigos de uma sociedade aberta e plural esfregam as mãos de contentamento, uma vez que os mesmos propiciam terreno fértil à propagação da sua mensagem.
Perante atitudes destas, sem qualquer razoabilidade, os extremistas que procuram destruir o consenso social e a classe média para implantarem uma ‘nova ordem’ mundial, sejam eles adeptos dos “amanhãs que cantam”, especuladores financeiros, ou offshores sem rosto, não precisam de se esforçar muito.
Infelizmente, pessoas com elevadas responsabilidades parecem não descortinar nada mais que os seus pequenos interesses egoístas de curto prazo. Em todo o caso, ainda vamos a tempo de nos indignarmos. A assembleia-geral de accionistas do BCP vai ser confrontada com as suas responsabilidades.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.