Se há tópico difícil de medir em Ciência Política é a “Corrupção” de um dado Estado. Claro que há outros conceitos que criam idêntica dificuldade como, por exemplo, “Poder”, “Influência”, entre outros. Mas a corrupção tem, talvez por estar nas letras garrafais das notícias dos nossos dias, um apelo maior junto da(s) opinião(ões) pública(s)/opinião publicada. Por norma, os comentários a este respeito enchem-se de “dever ser” e eu até tento entender a moral por trás dessas argumentações. Mas como já aqui escrevi várias vezes noutros momentos, este assunto não é nem linear nem preto e branco.

E não venho para aqui falar de corrupção porque há mais processos judiciais, mais notícias, mais “casos” a rebentar semana sim, semana não, sobre o assunto, mas sim porque já estão disponíveis os dados da Transparência Internacional sobre o Índice de Percepções da Corrupção para 2017. E lá surgimos nós (Portugal) na posição 29 de entre os 180 países estudados. Para uns é bom, para outros é mau. Pessoalmente, continuo a abster-me neste ponto, pedindo desde já desculpa pelo “não sei”. E digo-o com a sinceridade que posso, uma vez que já usei esses dados (não os do ano passado, claro) por serem informação credível e amplamente utilizada. Todavia, não podemos esquecer que se referem a percepções, e que percepções de corrupção não significa o mesmo que níveis de corrupção.

Ter ideia de que o meu vizinho pagou a um funcionário público para ter um atendimento, digamos, preferencial, não é o mesmo que dizer que vi/sei/um envolvido disse-me, que o meu vizinho agiu dessa forma. E porque é que isto é importante? Porque nos cabeçalhos das notícias, e infelizmente muitas vezes nos textos das mesmas, e depois na opinião da população não é bem essa a informação veiculada. Obviamente que para muitos de vós esta conversa é vazia, ou até pensam que que a minha opinião não faz neste tema, nem noutros, sentido e está deturpada. Mas talvez não seja má ideia pensar no que pensamos, e não aceitar coisas complexas e difíceis de ânimo leve ou sem um certo questionamento cartesiano.

Não quero evangelizar-vos, mas, e daí, talvez tente: este índice baseia-se em questionários a vários tipos de pessoas, sendo que muitos são analistas independentes. Até aqui, nada de mal. Mas atenção, que “tipo” de pessoa é questionada? São amostras aleatórias? Representativas? Não é bem esse o intento de tal. Os números (do ranking) são por si só uma criação, ou seja, estar na posição 28 ou 45 quer dizer pouco em termos efectivos, há que lhe dar um conteúdo baseado na comparação, ainda que os países tenham tamanhos (populacionais e geográficos) diferentes, culturas, ambientes e níveis de democratização (se democracias) distintos, etc. Esta hierarquia foi produzida para ser mais facilmente apreensível, mas poderia contar com outros números, com outras justificativas.

Independentemente de concordarmos com a mistura que ali se faz, em geral, em Democracias Ocidentais, este índice agrega indicadores de princípios basilares. Porém, o melhor é não ler dos dados o que os dados não querem dizer.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.