“Portugal está de moda”, é o titulo de um artigo que o El País publica sobre as mudanças em Portugal no último ano. As mudanças políticas (substituição de “políticos tristes” por “políticos otimistas”), a conquista do Euro 2016, a eleição de um português para Secretário-Geral da ONU ou a vitória no Festival Eurovisão de 2017 são alguns dos acontecimentos salientados pelo jornal espanhol. Mas também os bons resultados económicos e sociais e as políticas do novo Governo de esquerda são elogiadas pelo El País.
De facto, a economia está a crescer ao ritmo mais elevado da última década (2,8%), para o qual tem contribuído a procura externa líquida (exportações superiores às importações), o investimento das empresas (que em 2016 já tinha crescido cerca de 6%) e a procura interna que, de acordo com o INE, “manteve um contributo positivo elevado” no 1º trimestre de 2017. O previsível aumento do investimento público e dos investimentos privados induzidos pelos fundos estruturais do Portugal 2020 abrem boas perspetivas para o resto do ano de 2017.
Este bom desempenho económico traduz-se na criação líquida de emprego e na diminuição da taxa de desemprego (já abaixo dos 10%), aliviando a pressão sobre a segurança social (mais pessoas a descontar e menos prestações relacionadas com o desemprego). Ao mesmo tempo, o défice orçamental está a diminuir de forma consolidada, o que permitiu a Portugal sair do procedimento por défice excessivo, como foi ontem confirmado por Bruxelas.
São vários os fatores avançados para explicar este bom desempenho. Há fatores internos, como a estabilidade política e as políticas económicas progressistas (devolução de rendimentos às famílias, apoios sociais aos mais desfavorecidos, redução da carga fiscal global, mais investimento em ciência, qualificações e inovação, desburocratização, melhor contexto para o empreendedorismo, atração de investimento estrangeiro qualificado, etc.); mas também há um contexto internacional favorável, como as baixas taxas de juro ou a política monetária do BCE (embora este contexto exista pelo menos desde 2013) ou o bom desempenho económico de alguns dos nossos parceiros comerciais.
Este bom desempenho reflete, também, a confiança dos agentes económicos na economia portuguesa (famílias e empresas). Sabendo-se que as empresas investem sobretudo a pensar no longo-prazo, torna ainda mais relevante o facto de todas as semanas sermos confrontados com anúncios de investimento de empresas estrangeiras em Portugal, mas também de empresas nacionais que reforçam o seu investimento.
Trata-se de investimento essencialmente baseado em I&D e em inovação, e criador de emprego qualificado em várias áreas de atividade: nas tecnológicas e digital (Siemens, Bosch, Vodafone, Mercedes-Benz), na produção automóvel (Autoeuropa) ou nas renováveis (VESTAS). Nas startups o dinamismo é semelhante, com Portugal a ser considerado como um dos principais hubs europeus de empreendedorismo, atraindo incubadoras (Second Home) e eventos globais (Web Summit) e startups de elevado potencial de crescimento (como a Pipedrive, da Estónia ou as de origem portuguesa Farfetch, Uniplaces ou Veniam).
São bons exemplos que aos poucos vão contribuindo para alterar a estrutura de especialização produtiva da nossa economia. É preciso relembrar que mais de 60% das nossas exportações e cerca de 70% do VAB é ainda constituído por produtos de baixa ou média-baixa intensidade tecnológica. Se não quisermos esperar pela natural renovação empresarial (que poderá levar uma ou duas décadas), é essencial o reforço dos estímulos do lado das políticas públicas, que acelerem uma maior incorporação de valor na produção nacional (como está a acontecer através dos incentivos financeiros do Portugal 2020 ou dos incentivos fiscais à I&D). Mas é preciso, também, que haja uma maior capacitação das empresas para absorver e incorporar no seu processo produtivo o conhecimento e tecnologias geradas externamente (pelas universidades, centros de I&D ou por outras empresas), através da inovação aberta e do envolvimento das entidades de interface.
A produção e exportação de produtos de maior valor acrescentado exige mais atividades baseadas em I&D, tecnologia e inovação, mas também uma mais eficaz utilização e partilha de recursos entre os agentes económicos.