Num mundo cada vez mais dominado por uma língua franca, o inglês, temos assistido à desvalorização da diversidade linguística. Esta realidade leva-nos, por vezes, a esquecer a riqueza e diversidade da nossa língua e a pensá-la como um instrumento menor de afirmação económica, científica e cultural e a reduzi-la à condição de língua falada em Portugal.

Contudo, a língua portuguesa ocupa um espaço significativo no mapa linguístico mundial e é a quarta língua mais falada do mundo. É utilizada em todos os continentes do globo e nas mais importantes organizações internacionais de carácter regional e está representada nas organizações internacionais de carácter global. É, portanto, uma importante ferramenta de comunicação ao nível global.

O facto de se espalhar por tantos contextos, latitudes e longitudes faz com que seja uma língua rica em diversidade. Lembro-me que, ainda recentemente, uma pessoa me dizia que o seu português não era o melhor, precisava de mais prática. Realmente, talvez não fosse o português que se fala em Portugal, mas era um português enriquecido pela experiência que essa pessoa tinha de falar nove línguas.

Enquanto a maioria de nós tem a língua portuguesa e uma língua estrangeira como referência, esta pessoa transporta consigo mais nove referências que dialogam com a sua própria língua. O seu português não era mau, a presunção de que o português deve apenas ser falado como o é em Portugal é que não é correta. Afinal, ser global significa estar em diferentes locais e para tal ser representativo em diversas culturas e, devido a isso, aceitar que as falas podem ser diferentes, mas a língua é a mesma.

Nesse sentido, foi recentemente lançado o livro Novo Atlas da Língua Portuguesa, da autoria de Luís Antero Reto, Fernando Luís Machado e José Paulo Esperança, editado com o apoio do Instituto Camões e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. O prefácio de Augusto Santos Silva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, é de uma lucidez enorme, percorrendo as várias vertentes ligadas à língua portuguesa e desmistificando essa ligação forçada da língua apenas a Portugal, mostrando a sua multiplicidade e valor.

A obra apresenta-se com uma organização virada para o presente e o futuro, mais do que o passado, apesar da contextualização diacrónica que proporciona. As imagens, gráficos, quadros e mapas são de excelente qualidade, e permitem ter uma visão diferenciada por território (sem esquecer as diásporas dos países lusófonos), mas também uma perspetiva global.

Houve, igualmente, o cuidado de traduzir a obra para o inglês para mostrar a realidade da língua portuguesa. Porque em português nos entendemos, mas sabemos que nem todos entendem português.