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Pré-publicação: as relações entre banqueiros e políticos

O Jornal Económico revela em primeira mão alguns excertos do novo livro de José Gomes Ferreira, “A vénia de Portugal ao Regime dos Banqueiros”, que estará à venda a partir deste fim-de-semana e será apresentado publicamente no dia 26 de outubro numa sessão em Lisboa.
Cristina Bernardo
24 Setembro 2017, 20h00

Núncio salvou o Governo de Passos Coelho
“Uma fonte da ala social-democrata do Governo haveria de dizer mais tarde que se Paulo Núncio não tivesse estado presente, o Executivo teria caído naquele instante. Núncio foi o único membro do CDS-PP entre mais de 100 pessoas envolvidas na cerimónia. Se não tivesse estado ninguém do partido, Cavaco Silva teria interpretado naquele momento que a coligação tinha acabado e convocaria eleições imediatamente, ou pouco dias depois, para a formação de um novo Governo”

A história nunca contada da reunião discreta de Paulo Portas com Ricardo Salgado, na semana da “demissão irrevogável”
“Ao deixar a sala da administração do BES e chegar a meio do corredor dos elevadores, com a zona do secretariado em frente, as janelas envidraçadas para o Tejo à direita e os elevadores à esquerda, percebeu que a secretária de Ricardo Espírito Santo Salgado se levantara num alvoroço, visivelmente nervosa:
– A reunião já acabou, senhor doutor?!
– Não, mas eu tive de sair mais cedo…
– Ah, é que eu pensava…
Não teve tempo de acabar a frase: a campainha de chegada de um dos elevadores ao oitavo andar tocou de repente interrompendo o diálogo, a porta automática abriu-se e…apareceu Paulo Portas., (…) O significado profundo do encontro de Paulo Portas com o presidente executivo do BES e do GES, a meio da semana da vertiginosa crise política de Julho de 2013, terá deixado intrigadas a maior parte das pessoas que dele tiveram conhecimento na altura. Esse significado, só cerca de um ano mais tarde terá começado a tornar-se perceptível, aos olhos de algumas pessoas que com ele tinham interagido naquele período.”

O BES e a disputa pela liderança do PS
No domingo seguinte, 3 de Agosto, horas antes da intervenção no BES, António José Seguro deu outra entrevista, desta vez ao Público. «Considero que há uma mistura entre política e interesses… (Vou) apresentar uma nova lei de incompatibilidades na Assembleia da República para que todos os deputados que recebem rendimentos para além dos provenientes do seu salário na AR possam ser conhecidos pelos portugueses… não é aceitável que existam deputados que, por serem advogados, estejam a coberto do estatuto dos advogados e argumentem que não podem dizer para quem é que trabalham e de quem é que recebem dinheiro. Aqui está um exemplo do estabelecimento de uma fronteira entre os negócios e a política.» E agora um exercício de memória. Antes do Grupo Espírito Santo entrar em derrocada, foi publicada uma pequena notícia, nunca desmentida, que dizia que a candidatura de António Costa à liderança do PS já tinha o apoio dos banqueiros. Naquela altura, ainda toda a gente sabia que «ter o apoio» dos banqueiros era ter o apoio de Ricardo Salgado. O apoio «da velha banca e da velha política».

Com Marcelo e Costa, o desfecho do BES teria sido diferente?
Já na Primavera de 2017 tive oportunidade de conversar com fontes muito próximas de António Costa, a quem perguntei o que teria acontecido se, na altura da falência do Grupo Espírito Santo e da resolução do BES, fosse ele o primeiro-ministro e Marcelo Rebelo de Sousa o presidente da República. Teria o Governo autorizado um financiamento dos bancos sob influência do Estado, BCP e CGD, no valor de 2,5 mil milhões de euros, para ajudar o GES? Teria havido uma solução diferente do processo de resolução bancária aplicado ao BES pela primeira vez na Europa? A reacção à pergunta decorreu a dois tempos. Num primeiro momento, a fonte não se mostrou surpreendida e respondeu logo: «Sim!» E após uns segundos de hesitação acrescentou: «Sim, mas nunca para manter Ricardo Salgado na administração!»

Artigo publicado na edição digital do Jornal Económico. Assine aqui para ter acesso aos nossos conteúdos em primeira mão.

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