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Proibição de pesticidas pode custar 810 milhões ao setor

Há 110 substâncias fito-farmacêuticas que estão na ‘lista negra’ de Bruxelas. Se forem proibidas em Portugal, a associação que representa os produtores de pesticidas calcula que cerca de 55% dos rendimentos de cinco fileiras da agricultura se perderiam.
Darren Whiteside/Reuters
19 Novembro 2017, 19h05

A proibição de utilização de pesticidas em Portugal pode custar 810 milhões de euros por ano aos agricultores nacionais de cinco fileiras principais de produção, como o vinho, azeite, milho, pera e tomate, com quebras previstas de rendimento entre 82% no tomate e 46% no vinho. Em termos gerais, estamos a falar de uma quebra de 55% face aos 1.462,5 milhões de euros de rendimentos gerados por estas fileiras agrícolas, segundo os últimos dados disponíveis.

Estas são as principais conclusões de um estudo encomendado pela ANIPLA – Associação Nacional para a Proteção das Plantas, criada em 1992, reunindo os principais produtores mundiais deste tipo de substâncias ativas, como a Bayer, Monsanto, Syngenta, Dupont, Dow, BASF ou Sapec, com instalações fabris em Portugal. E este cenário da proibição dos pesticidas na agricultura já esteve mais longe de se concretizar. Os responsáveis da ANIPLA relembram que do grupo das substâncias ativas consideradas em risco de exclusão ao nível da União Europeia, por pelo menos um dos critérios de avaliação, foram identificadas 112 em Portugal, num processo apelidado de cut off.

Disputa entre dois blocos

O impasse que se tem prolongado ao longo dos últimos meses em Bruxelas ao nível da utilização do glifossato é um sinal das tremendas forças em presença entre dois grandes blocos de lobby: por um lado, os produtores multinacionais de pesticidas e as associações ambientalistas e de defesa dos direitos dos consumidores.

Em entrevista ao Jornal Económico, António Lopes Dias, diretor executivo da ANIPLA, explica “que estamos aqui não só para defender os interesses dos nossos associados, mas também os interesses dos agricultores e os interesses dos próprios produtos, no sentido de quanto melhor for produzido, com mais cuidado, com mais responsabilidade, mais impacto teremos na saúde e na perceção dos consumidores”. Para este responsável, existem diversos mitos em redor dos pesticidas que é preciso desmontar. “Estas substâncias ativas são como medicamentos para plantas. As plantas têm doenças, são atacadas por parasitas. Nesse aspeto, não pode haver maior analogia, porque nós, seres humanos, não podemos viver sem medicamentos, sabemos que eles têm contraindicações e sabemos que não podemos abusar deles”, defende.

Impactos na agricultura

O diretor executivo da ANIPLA esclarece que, no seu entender, os pesticidas “são necessários para o setor agrícola, para alimentar pessoas, preservando os recursos, produzindo mais ou melhor, na maior parte dos casos produzindo mais e melhor, tentando resolver um problema crescente que é a escassez de alimentos”. António Lopes Dias destaca que este problema não é tão visível para o consumidor europeu ou americano, que está já a caminhar para diversificação de produtos agrícolas, mas que afeta a grande maioria da população da Ásia, África e América Latina. E acrescenta que a proibição de pesticidas iria prejudicar não só o setor da agricultura, mas também outros setores como têxtil ou a indústria farmacêutica, que vêm buscar às plantas alguns dos elementos-base para as suas produções.

“Um dos grandes desafios é fazer com que a opinião pública entenda qual o papel da agricultura, qual o papel que cada segmento de atividade tem de desempenhar e saber que a agricultura mexe com muita gente e com muita tecnologia”, assegura, reconhecendo a dificuldade da tarefa: “Como é que 1% da população, cerca de cinco milhões de agricultores europeus consegue explicar aos outros 99% a vantagem de utilização de produtos fito-farmacêuticos e os graves danos que irão correr se eles forem proibidos?”.

Para este responsável da ANIPLA, desde 2009 existe uma legislação comunitária sobre esta matéria, que assenta em decisões cada vez mais em função do perigo em vez do risco. “Em vez de se defender a mitigação do perigo, a doutrina atual é, se é perigoso, proíbe-se. Parece que os decisores vivem numa bolha, parece não terem percepção da realidade das coisas”, acusa António Lopes Dias.

Impasse no glifossato

O diretor executivo da ANIPLA dá como exemplo a polémica em torno do glifossato, que está há meses a ser discutido em Bruxelas, com sucessivos adiamentos da decisão da proibição definitiva ou da prorrogação da utilização deste produto na agricultura por, alegadamente, estar associado a um maior risco de doenças cancerígenas. “O IARC [Instituto de Avaliação e Pesquisa Contra o Cancro, da OMS – Organização Mundial da Saúde] já assinalou praticamente tudo como passível de ter risco cancerígeno: enchidos, aloé vera, carnes vermelhas, café, as profissões de cabeleireiro, pintor, piloto de avião e carpinteiro, entre outras. Há 900 e tal recomendações. Parece estarem contra tudo o que é químico, o que é desenvolvimento económico e o que é a ciência”, insurge-se. O diretor executivo da ANIPLA destaca que duas associações internacionais independentes como a EFSA – European Food Safety Agency (agência de segurança alimentar da União Europeia) e a ECHA – Agência Europeia dos Produtos Químicos já asseguraram que o glifossato não tem implicações cancerígenas. Mas da fama já ninguém livra o produto.

“O glifossato é necessário, por isso é largamente utilizado. Só atua nas folhas, não na raiz, das plantas ainda verdes. Se for proibido, em Portugal quem vai sofrer é o agricultor, que fica sem solução, e com maquinaria e mão-de-obra excedentárias. O que se passa é que a população está muito sensível a qualquer tipo de desinformação deste género”, conclui António Lopes Dias.

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