Nunca é excessivo repetir que a Argentina é, provavelmente, o mais passional dos países. Vive entre extremos e, em poucos meses, pode passar da total euforia à mais profunda depressão. Os últimos tempos têm contrariado esta lógica e parecem colocar o país no caminho de uma certa normalização e moderação – apesar de o momento ser de ajustamento económico, é patente o otimismo dos argentinos em relação ao futuro próximo.
A Argentina, apesar de todas as crises e contratempos, continua a ser um dos países com mais elevado grau de desenvolvimento da América Latina. Embora muito dependente da exportação de matérias-primas e do mercado interno, tem um PIB elevado, boas universidades, recursos humanos qualificados e um relativo equilíbrio na distribuição da riqueza.
Nos últimos 30 anos, os argentinos passaram por uma fase de profunda liberalização da economia, com um conjunto de privatizações que não envergonharia os conservadores de Margaret Thatcher (1989-1999); pela maior crise da sua história (2001-2002); e por uma etapa de recuperação do protagonismo económico do Estado (2003-2015). O programa massivo de privatizações e o programa de nacionalizações foram conduzidos, respetivamente, por Carlos Menem e por Nestor e Cristina Kirchner. Curiosamente, os três chefes de Estado pertenciam ao mesmo partido, o Justicialista (peronista). Outro aspeto comum: a corrupção foi dominante nos dois períodos.
Mauricio Macri, o Presidente que tomou posse em dezembro, não é originário de nenhuma das grandes famílias políticas argentinas (peronistas e radicais). Fundou o seu próprio partido, Propuesta Republicana (PRO), a partir de uma candidatura à chefia do município de Buenos Aires. O início do seu mandato tem sido marcado por uma política de abertura económica que pretende, sobretudo, recuperar a capacidade de atração de investimento do país. O liberalismo de Macri é contrastante com o ultraliberalismo irresponsável de Menem, assente exclusivamente em privatizações em larga-escala e na paridade entre o dólar e o peso.
Ter vivido estes contextos económicos extremos pode ter tido um aspeto positivo. Os políticos e a opinião pública são agora menos propensos à aplicação de políticas radicais. Esta pode mesmo ser uma excelente oportunidade para a Argentina compatibilizar os setores público e privado (nacional e estrangeiro) no âmbito de uma economia de mercado e de um Estado social, algo com muito pouca tradição na América Latina. Por ora, Macri parece ir no bom caminho.