A reunião de Rui Rio com António Costa é um momento de viragem no xadrez partidário. O presidente do PSD cumpre a sua promessa de devolver o partido à área do diálogo. Ao mesmo tempo, o primeiro-ministro e secretário-geral do PS aceita a disponibilidade e, com isso, aumenta a centralidade política do seu partido, e a capacidade do Governo.

Estamos perante um fator novo na política portuguesa.

Não é pouca coisa que os dois maiores partidos se entendam quanto à necessidade de uma descentralização mais rápida e de consensualizar uma estratégia nacional para os fundos comunitários de apoio até 2030. É só um começo, mas é um bom começo. E rápido.

Significa isto que o PS deixa de estar refém da extrema-esquerda se falhar a maioria absoluta que, por enquanto, parece estar ao seu alcance lá para 2019. E significa isto que o PSD tem mais vida para além do CDS/PP. Numa semana, o quadro partidário mexeu, tornou-se mais complexo e capaz de articular políticas, consensos e, até, várias possibilidades de governo.

Num País normal, seria isto que estaria a fazer os programas de política, analisando-se o novo quadro envolvente de todos os partidos, as eventuais mudanças de estratégia.

No entanto, não é isto que vemos. A área mediática encravou há uma semana na escolha de Elina Fraga para a direção do PSD e no discurso de Luís Montenegro, genialidade autoprometida para o futuro. Ainda se repescam as agruras do ex-líder parlamentar, Hugo Soares, uma simpática existência desconhecida há seis meses. E, embrenhado nestes temas profundos (um dos quais se resolve com uma demissão, se tiver de ser o caso), o ‘Portugal dos Pequeninos’, sempre cínico e tragicamente dado ao estudo de episódios irrelevantes, consome-se na mediocridade habitual.

Sejamos claros.

O Congresso do PSD foi muito bem aproveitado por Rui Rio para estimular sinergias internas com o opositor (Santana Lopes) derrotado nas urnas. Nesses dois dias foi também observado o estertor do Passismo, de saída – e o desespero do Relvismo, sempre à espreita, agora de óculos cor da moda.

Aqueles dois dias e meio de feira de vaidades, compostos por uma maioria de discursos irrelevantes, como normalmente acontece nos retiros partidários, valem o que valem. Realmente importante é registar que o PSD mudou de pessoas, de estratégia e de tática. Agora devia começar o escrutínio. Perceber se essas pessoas cumprem as linhas aprovadas, se o País as entende e delas necessita. Rui Rio, obstinado e convicto como é, até pode falhar mas não vai ficar a ouvir este ruído que produz a sua caravana ao passar.