Numa Europa agitada em torno das eleições decisivas nos países mais influentes da União Europeia, França e Alemanha, existem vários problemas que continuam a atormentar esta União que, paulatinamente, se está a transformar num palco de cisões iminentes. Para além da ameaça terrorista constante e das persistentes preocupações com a segurança dos Estados e cidadãos, outras questões marcam a agenda política europeia. Entre estas o Brexit e o risco de saída de outros Estados pertencentes à União.

Esta semana, o Brexit conheceu um capítulo novo, elucidativo sobre o que se está a passar no Velho Continente. O Embaixador britânico junto da União Europeia, Ivan Rogers, decidiu demitir-se após uma série de relatórios e de correspondência trocada com o seu governo. Diz Rogers que existe uma falta de estratégia para a saída da Grã-Bretanha da UE e a ausência de uma equipa de negociação coerente que possa suportar as exigências negociais do momento. O verniz estalou quando Rogers bateu com a porta.

Da parte da UE veio o reconhecimento pelo seu trabalho e pelo profissionalismo com que estava a desenvolver o penoso caminho de uma saída, até há pouco tempo, imprevisível. Rapidamente, o executivo de Theresa May nomeou um substituto. Alguém vindo de Moscovo, mas já com experiência de União Europeia. O diplomata sobre quem recaiu a escolha é Tim Barrow que parece tecnicamente pouco preparado para as negociações que estão centradas em temas como os serviços financeiros e a livre circulação de cidadãos. Note-se que o pretexto para a demissão do antigo embaixador é a falta de estratégia política da Grã-Bretanha, enquanto o governo do país afirma que se trata apenas de uma habitual circulação de diplomatas.

Na verdade, a Grã-Bretanha deseja um processo lento de saída da UE, como se fosse saindo, mas ficando. Do lado da União pretende-se negociações claras e técnicas com alguma rapidez. Estas duas posições que parecem inconciliáveis acabam por não o ser, dados os problemas enfrentados tanto pelos Estados-membros da UE e pela organização em si, como pela incerteza que marcam as eleições na Alemanha, França e Itália, cujos resultados são completamente imprevisíveis. Isto dará tempo ao lado britânico, mas desgastará o que resta da União.

É que, apesar do esforço de alguns europeístas, a UE esboroa-se na vontade que muitos dos povos dentro deste espaço têm de se voltarem para si próprios. Como se num ápice pudessem regressar ao que já foram ou negar o contexto de globalização em que vivem. São estas promessas populistas, mas sem nenhuma estratégia que alimentam os ‘Brexits’ que podemos esperar e que poderão ser muito vigorosos em 2017. Entretanto, a Comissão Europeia e o Parlamento Europeu mantêm uma política de afastamento aos cidadãos e lenta nas decisões necessárias para defender a segurança interna da União. Porque simplesmente ainda não perceberam que a imprevisibilidade joga a favor do populismo e que a falta de estratégia destes movimentos poderia ser o argumento europeu para derrotá-los.