Há três anos visitei Israel. A minha guia alemã encontrava-se em recuperação de um forte ataque de Síndrome de Jerusalém que a levou a permanecer na cidade 15 anos. E no que consiste esta síndrome? Cidade de grande significado religioso para judeus, cristãos e muçulmanos, para algumas pessoas a emoção ao chegar à cidade pode resultar num distúrbio psiquiátrico.

São detectados cerca de cem casos anualmente e os sintomas podem ir de delírios a alucinações psicóticas – usar as toalhas e lençóis do hotel como togas; dar à luz Jesus, como aconteceu a uma professora irlandesa que decidiu ir para o hospital apesar de nem sequer estar grávida; um austríaco que desfez a cozinha do hotel depois de se recusarem a cozinhar a última ceia; um australiano que incendiou a mesquita de Al-Aqsa, a maior de Jerusalém, numa missão divina e provocou um tumulto.

Outras cidades desenvolveram síndromes semelhantes. A Síndrome de Stendhal, em Florença, ataca os turistas amantes de arte que sofrem chiliques perante os frescos renascentistas. A Síndrome de Paris só se manifesta em japoneses e origina episódios maníacos quando percebem que, em vez da cidade mais romântica do mundo, chegaram a uma bodega com o mesmo trânsito, poluição, multidões e chatices de qualquer metrópole. Penso que já estão a perceber a ideia.

Lisboa desenvolveu nos últimos tempos a Síndrome de Madonna. Famosos descobrem o eixo Castelo-Alfama, sofrem achaques e compram palacetes. Já temos no bairro o Michael Fassbender a passear de boné; o Christian Louboutin a dar espalhos na calçada e a Monica Bellucci a comprar tangerinas na mercearia indiana. A Madonna decidiu morar em Santos, mas vem beber umas minis e tirar fotografias nas escadas do meu prédio. É a Beverly Hills lusa em 500 m2 a cheirar a Omo e a sardinhas.

Em apenas cinco anos o bairro deixou de ter prédios devolutos, espaços fechados há décadas abriram com novos negócios e passou a ser seguro andar na rua à noite. Mas para o Bloco de Esquerda “a gentrificação é um produto do urbanismo neoliberal” que urge restringir, taxar e proibir.

Esquecem que um dos principais motivos que levaram à decadência do centro de Lisboa foi o congelamento das rendas durante décadas, que originou, em parte, a construção desenfreada nos subúrbios. Situação que ainda hoje se mantém, apesar das actualizações de valor com T10 pombalinos em plena Baixa com rendas de 50 euros e muitos senhorios coagidos a realizar obras nos imóveis mas sem acesso aos mesmos.

A Lei das Rendas e o dossier das rendas antigas vai estar novamente em debate no Parlamento em Março, e será alvo de várias revisões por iniciativa dos partidos de esquerda. Teme-se o pior quando o Governo tem tendência a olhar apenas para um dos lados. É a síndrome de má política no seu esplendor que hoje afecta tantas cidades em todo o mundo.

A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.