Em janeiro, o republicano Trump toma posse na Casa Branca e o mundo espera para ver se as promessas, do muro com o México aos estímulos económicos que já levaram Wall Street para máximos, são para cumprir. Em Nova Iorque, é um português, António Guterres, que vai gerir o impacto de Trump na diplomacia mundial.
O outro sucesso do populismo foi a vitória do Brexit, mas o assunto não está encerrado. Theresa May quer acionar o Artigo 50 até ao final de março, abrindo portas a dois anos de negociações sobre a saída da União Europeia. No outro lado do Canal da Mancha reside uma das grandes dúvidas para 2017: conseguirá alguém travar Marine Le Pen, candidata da Frente Nacional nas presidenciais de abril? Na Alemanha, Angela Merkel ficou isolada após o ataque em Berlim este mês, à entrada de um ano no qual enfrenta eleições.
Na política portuguesa é também uma ida às urnas que já centra as atenções na agenda para 2017, com as autárquicas em setembro ou outubro. Na banca, os ‘dossiers’ CGD e Novo Banco derrapam para o ano novo, enquanto na economia o Orçamento do Estado para 2018 poderá ser um teste duro para o Governo.
A visita do Papa Francisco a Fátima no centenário das aparições vai mover multidões, tal como a final da Liga dos Campeões em Cardiff, a abertura completa do Maat e nova edição da Web Summit em Lisboa.
No final ano poderá chegar o fim o programa de compras do BCE, que tem sido um autêntico abono para a dívida portuguesa.
A vir, o belzebu usará a porta europeia. Uma economia fragilizada como a portuguesa depende do BCE para se manter com acesso aos mercados financeiros. O programa de compras de dívida pública do banco central, que tem mantido os juros das obrigações portuguesas em níveis historicamente baixos, tem fim previsto em dezembro de 2017. E, antes disso, provavelmente no verão, o BCE deve esgotar o limite estabelecido para a compra de dívida do Estado português.
Mas, como noutras ocasiões, Mario Draghi pode tomar a decisão – que é tanto política como económica – de prolongar o programa de compras de ativos ou de ajustar os limites de aquisição de dívida. Num ano em que a Europa tem de lidar com (tantos) temas tão complexos – Brexit, Trump, Grécia, crise migratória e extrema-direita – é difícil acreditar que as autoridades europeias estejam disponíveis para abrir uma nova frente de tensão no projeto europeu, ao apontar um novo aluno mal comportado a necessitar de ajuda dos parceiros europeus. Tal como o Orçamento do Estado para 2017 passou em Bruxelas sem cumprir escrupulosamente os tratados europeus, poderá haver decisões políticas que facilitem a vida ao país.
Muitos temem também que a DBRS diminua o rating, mas a agência de notação financeira já deu sinais de que segura a avaliação do país mesmo em cenários de turbulência financeira.
O problema é a perceção de risco do país pelos investidores, que pode fazer subir os juros do país para níveis pouco recomendáveis. E a capacidade de crescimento do país é essencial nessa avaliação. A frase atribuída a Passos Coelho, de que o diabo chegaria em setembro, alertava sobretudo para a degradação da economia depois do verão. Tal acabou por não se verificar – a economia cresceu até acima da média da zona euro. Mas o crescimento económico em 2017 é um ponto de interrogação.
Tudo indica que sim. Quem olhar para a instabilidade que parece minar o PSD pode pensar que Passos Coelho não consegue segurar a liderança do partido até às eleições internas, no primeiro trimestre de 2018. Só que no outono de 2017 há eleições autárquicas e a proximidade do embate eleitoral obriga a que as divergências internas sejam relegadas para segundo plano.
Acresce que os estatutos do PSD dificultam que se discuta antecipadamente a liderança, mesmo que a oposição já tenha recolhido as 2.500 assinaturas para convocar uma reunião magna.
São vários os nomes que saltaram para cima da mesa ou, mais exatamente, para as páginas dos jornais, como candidatos à liderança. À cabeça, Rui Rio, o único a confirmar a disponibilidade. Depois, Pedro Santana Lopes, Nuno Morais Sarmento, Maria Luís Albuquerque e Luís Montenegro. Os dois últimos, pela proximidade ao líder, não deverão disputar a presidência do PSD contra Passos Coelho – que não deixará de recandidatar-se.
A questão não será, então, se Passos Coelho chega às autárquicas, mas se, lá chegado, a elas sobrevive. Em Lisboa, a hipótese de apoio a Assunção Cristas está já a desestabilizar a estrutura social-democrata e pode ser representativa.
O problema é que as últimas autárquicas, em 2013, representaram o pior resultado de sempre para o PSD e cair ainda mais pode ser fatal para uma liderança que, ainda por cima, estabeleceu como objetivo “ganhar o maior número de câmaras municipais e juntas de freguesia”.
O próximo ano vai ficar marcado pela conclusão da investigação a José Sócrates, depois de vários adiamentos de prazos para o despacho de acusação ao ex-primeiro-ministro no processo Marquês, que se iniciou a 19 de julho de 2013 e conta com mais de 15 arguidos. A procuradora-geral, Joana Marques Vidal, já confirmou que março de 2017 é o prazo-limite para ser emitido o despacho, tendo abdicado do relatório intermédio sobre a evolução do caso. Sócrates, que esteve detido cerca de um ano, está indiciado pelos crimes de fraude fiscal, branqueamento de capitais e corrupção passiva para ato ilícito. O cabeçalho inicial do processo Marquês já deu origem a 30 mil páginas de relatórios, autos de buscas, resumos de interrogatórios e um número sem fim de diligências. A investigação continua no terreno com sete magistrados e 16 inspetores tributários.
Miguel Macedo em tribunal
O caso Sócrates promete agitar a Justiça, mas não será o único. Ainda antes de ser conhecida a acusação ao ex-primeiro-ministro, começa a 10 de janeiro o julgamento do processo dos ‘vistos gold’, em que é arguido o ex-ministro da Administração Interna, Miguel Macedo.
Este processo tem um total de 17 arguidos, entre os quais o ex-presidente do Instituto de Registos e Notariado, António Figueiredo, e o ex-diretor nacional do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Manuel Jarmela Palos. Na ‘Operação Labirinto’, desencadeada em 2014, estão em causa indícios de corrupção ativa e passiva, recebimento indevido de vantagem, prevaricação, abuso de poder e tráfico de influência.
Acusações no caso BES
Já nos processos relacionados com a derrocada do BES e do GES, fontes judiciais admitem que, no próximo ano, possam surgir algumas acusações no âmbito dos sete inquéritos autónomos que resultaram das investigações relacionadas com o universo Espírito Santo. Já foram constituídos 11 arguidos (nove pessoas singulares e duas coletivas), entre os quais Ricardo Salgado. A expectativa recai agora num eventual despacho de acusação no que é visto como o caso principal: a alegada gestão ruinosa do BES e a emissão de papel comercial da ESI e da Rioforte. Na mira deste inquérito está ainda um esquema alegadamente montado pela Eurofin Securities (que terá permitido retirar cerca de 800 milhões de euros do BES antes da intervenção do Banco de Portugal). Na investigação ao universo Espírito Santo estão em causa crimes de burla qualificada, falsificação de documentos, falsidade informática, fraude fiscal, infidelidade, abuso de confiança, branqueamento de capitais e corrupção no setor privado.
É provável. A incógnita sobre o estado de saúde da geringonça aparece a cada Orçamento do Estado, com a complexa negociação de medidas que agradem tanto aos gregos da esquerda como aos troianos estabelecidos em Bruxelas. Mas, no próximo ano, as eleições autárquicas, que coincidem com a apresentação do OE2018, aumentam a dúvida sobre a longevidade dos acordos à esquerda que permitiram a António Costa chegar a primeiro-ministro.
Além das eleições, haverá uma outra fonte de pressão: grande parte das medidas dos acordos com PCP e Bloco já estão a ser implementadas, pelo que terá de haver novos pontos de entendimento. Isso poderá ser alcançado com uma nova vaga de medidas, encabeçada a mudança dos escalões de IRS, para aumentar a progressividade do imposto e aumentar o rendimento das famílias com menos recursos.
Pelas sondagens, o eleitorado aprecia esta solução do Governo e os partidos não deverão correr o risco de ficar com o ónus de ter quebrado uma solução há muito ansiada pelo eleitorado de esquerda – Bloco e PCP parecem ter retirado uma lição do chumbo do PEC de Sócrates, que levou a eleições antecipadas, a uma penalização nas urnas e ao governo de Passos. Mais do que fatores internos, a data de óbito da geringonça está mais dependente dos ventos que soprarem da Europa. Só um período de turbulência financeira e de imposições adicionais de Bruxelas a nível orçamental poderia ditar a morte do artista.
Sim – a não ser que o diabo apareça. Ter um défice abaixo de 3% é um “inconseguimento” crónico do país, usurpando a terminologia da antiga presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves.
Houve anos em que o saldo das contas públicas ficou abaixo do patamar definido pelos tratados europeus, mas a alteração posterior das normas por Bruxelas implicou uma revisão em alta desses valores. Resultado: segundo as estatísticas oficiais, desde a adesão ao euro que Portugal nunca registou um défice abaixo de 3%.
No ano passado, Portugal esteve muito perto de atingir aquela marca, mas a intervenção no Banif baralhou as contas na reta da meta e Portugal fechou o ano com um défice de 4,4%. Este ano, tudo parece encaminhado para que o resultado seja atingido. Até setembro, o défice do Estado ficou em 2,5% e os resultados da execução nos meses mais recentes dão sinais de que as metas acordadas com Bruxelas irão ser cumpridas – com a garantia adicional trazida pelas receitas extraordinárias do Plano Especial de Redução do Endividamento ao Estado.
António Costa já se comprometeu com um défice “claramente abaixo” de 2,5% e o Ministério das Finanças dá como certa a saída do Procedimento por Défice Excessivo (PDE). Caberá ao INE verificar o valor final do défice, em março, e ao Conselho da UE avaliar depois essa informação e decidir se o PDE é revertido.
Algumas das propostas da antiga estrela dos reality shows norte-americanos nunca poderão chegar a ser vertidas para a política, quer interna quer externa, dos Estados Unidos – sob pena de o país passar por enormes vexames internacionais. Já bastou o que foi dito durante a campanha eleitoral – que, como noutras paragens, merece o desconto da envolvente. Como em tudo o mais que envolve Donald Trump, a incógnita face às verdadeiras políticas do novo presidente dos Estados Unidos é o que marca a sua postura – mas ninguém acredita que o rei do imobiliário e dos casinos falidos possa continuar a desprezar os aliados de sempre do país, quer sejam os seus parceiros europeus, quer os países que fazem parte da NATO. Serve a mesma ordem de razões para a América do Sul – que é um enorme e natural mercado para as exportações norte-americanas. Trump deverá seguir uma linha bem menos beligerante com essas áreas geográficas – até porque, entre outras razões, a cada vez mais poderosa China, parece que ainda comunista, está atenta e espreita toda e qualquer oportunidade de ultrapassar o ‘amigo’ americano.
Quanto à pergunta, possível, sobre se Trump irá ou não construir um muro em toda a extensão da fronteira com o México – e para além do facto de já existir um muro em parte dessa fronteira –, ela parece ser apenas uma espécie de ‘gag’: ninguém está à espera que ao presidente dos Estados Unidos lhe dê para edificar uma muralha com 3.141 quilómetros de extensão, por muito que a Muralha da China tenha mais de 21 mil.
Só no pior cenário. O próximo ano trará eleições em França e na Alemanha e em ambos os países a extrema-direita está a baralhar as sondagens. Em Berlim, o recente atentado trouxe dúvidas sobre se o terrorismo pode dar mais votos à Alternativa para a Alemanha (AfD), mas Merkel parece bem posicionada para a reeleição.
Em França, o caso é mais delicado devido à ameaça de Le Pen, que tem ganho peso eleitoral nos últimos anos. À partida, as fortes candidaturas da direita tradicional (os Republicanos) e dos socialistas levam os analistas a afirmar que, pelo menos para já, a candidatura de extrema-direita não terá força suficiente para atingir a segunda volta das eleições presidenciais.
François Fillon pelos Republicanos e Manuel Valls pelo Partido Socialista são nomes demasiado fortes para que Marine Le Pen possa protagonizar uma surpresa que lançaria a União Europeia numa incerteza ainda mais profunda que a demissão do anterior primeiro-ministro italiano Matteo Renzi. Por isso, e em princípio, Fillon e o (ex-)catalão Valls deverão passar a primeira fase das eleições e voltar a encontrar-se numa segunda volta que, segundo a maioria dos analistas, não será propriamente renhida. De facto, nem os analistas normalmente conotados com os socialistas são capazes de antecipar a vitória do homem que foi primeiro-ministro de França até ao dia em que assumiu a candidatura à presidência. E, mais uma vez, o ‘culpado’ é François Hollande: o ainda presidente conseguiu destruir todo o capital de esperança que detinha há cinco anos atrás – o que acaba por destruir qualquer hipótese de os socialistas franceses se manterem no Palácio do Eliseu. E a derrota só não será maior porque Hollande percebeu que o seu tempo acabou. Aliás, dizem ainda os analistas, se não tivesse sido assim e Hollande tentasse a permanência, abriria as portas da segunda volta a Marine Le Pen.
A guerra na Síria vai continuar, provavelmente agora na província de Idlib, no noroeste do país, junto da fronteira com a Turquia. A acreditar-se nos ‘cronistas’ no terreno, as forças do autoproclamado Estado Islâmico estão não só a perder terreno, como também a sofrer pesadas baixas. Mas não é de excluir que a tentação vingativa dos seus adeptos nos leve a soluções militares desesperadas – que podem até estender a guerra a zonas desmilitarizadas. Por outro lado, o fim da guerra obrigaria a um comprometimento militar das forças que neste momento levam vantagem no terreno, e que não parece ser possível. Isto porque, por um lado, o regime de Bashar al-Assad está ‘exausto’ e sem capacidade de resposta mais ativa; e, por outro, porque os ‘amigos estrangeiros’ – a Rússia e o Líbano, nomeadamente – não podem fazer avançar para a Síria todo o poder bélico que tiverem em carteira – sob pena de poderem arranjar um problema internacional de proporções insondáveis, desde logo com os países ocidentais.
O facto de a guerra na Síria não dar mostras de ser um problema com uma solução clara e rápida é a pior notícia possível para os sírios. Não só para os que vivem no seu país, mas também para os que tentam a sorte lançando-se à estrada em busca de uma saída sem sangue. Com as metástases do Estado Islâmico a conseguir chegar à Europa sob a forma de atentados, todo o ato terrorista pressupõe o afunilamento cada vez maior do espaço de acolhimento dos refugiados. E essa é também uma certeza para 2017: não vai ser o ano em que o problema dos refugiados vai ser resolvido.
A separação oficial entre o Reino Unido e a União Europeia ainda não tem data marcada, mas os papéis entram nas conservatórias até ao final do primeiro trimestre do próximo ano.
Theresa May, que chegou a chefe do Executivo depois do malogrado referendo que ditou o fim da carreira política de David Cameron, já reafirmou que pretende acionar o artigo 50 do Tratado de Lisboa, que inicia o processo de desvinculação de um Estado-membro.
Seguem-se complexas (e longas) negociações sobre como será feita a separação. O Reino Unido está hoje vinculado a inúmeras cláusulas dos tratados europeus e as futuras tarifas aduaneiras entre os dois blocos económicos são apenas o início de um imenso caudal de pontos que ainda terão de ser definidos: como será a circulação de cidadãos britânicos na Europa e dos europeus no Reino Unido? Com que direitos ficam os expatriados?
O país debate hoje se haverá um ‘hard Brexit’, com o fim do livre comércio entre os dois blocos, ou um ‘soft Brexit’, com um entendimento amigável entre as partes. Theresa May tem mantido uma postura cautelosa sobre que direção tomar, mas já deu sinais de que quer manter os laços continentais. Já admitiu que o Reino Unido deverá manter as contribuições para o Orçamento da União Europeia – um tema delicado que chegou a ser invocado durante a campanha do referendo, com os defensores do Brexit a alegarem que as contribuições para a UE poderiam ser usadas para o reforço do serviço nacional de saúde.
Com bancos a planear sair da City e multinacionais a ponderar deslocalizar as unidades de produção britânicas que exportam para todo o mercado europeu, as cautelas de May compreendem-se.
Talvez, se Jorge Maria Bergoglio concluir que não tem condições de saúde física e mental para permanecer em funções, após três anos ao leme da Barca de Pedro. Se tal suceder, poderão existir três papas em simultâneo, pela primeira vez desde o Grande Cisma do Ocidente, embora neste caso com dois pontífices eméritos, Bento XVI e Francisco.
O Papa Francisco, que completou 80 anos no passado dia 17 de dezembro, já por várias vezes deu a entender que espera que o seu reinado seja breve. Tal como Bento XVI, Francisco quer evitar que a Igreja fique numa situação semelhante à que viveu nos últimos anos do pontificado de João Paulo II, com um papa gravemente doente e o poder entregue a um grupo de cardeais.
“Tenho a sensação de que o meu pontificado será breve. Quatro ou cinco anos. Não sei, ou dois, ou três. Pelo menos dois já passaram. É como uma sensação vaga. É como a psicologia de quem joga e acredita que vai perder para não se desiludir (…). Tenho a sensação de que o Senhor me colocou aqui para uma missão breve”, disse Francisco numa entrevista recente.
De acordo com notícias entretanto divulgadas, o Papa terá confidenciado a vários colaboradores que não pretende permanecer em funções para além dos 85 anos. E terá admitido retirar-se ainda antes de atingir essa idade, se entretanto tiver deixado de ter condições de saúde.
O certo é que o colégio de cardeais que vai escolher o futuro papa será diferente daquele que há três anos elegeu o então arcebispo de Buenos Aires para suceder a Bento XVI. Isto porque, desde então, Francisco nomeou 56 novos cardeais, oriundos de 36 países, reduzindo a influência dos cardeais italianos e europeus. A escolha do futuro pontífice não será tanto uma luta entre liberais e conservadores, mas sim entre, por um lado, os defensores de uma igreja aberta ao mundo, mais sinodal e menos centrada na cúria romana, e, por outro, os que defendem o modelo de organização tradicional.
A aposta está em cima da mesa. Bancos como o Barclays, o Goldman Sachs ou o Deutsche Bank acreditam num euro abaixo da paridade no final de 2017, algo que não acontece desde 2002. As perspetivas de novas subidas da taxa de juro nos EUA estão a levar à maior saída de capitais da zona euro de que há memória.
De acordo com dados publicados pelo Banco Central Europeu (BCE), os investidores da zona euro aplicaram 497,5 mil milhões de euros em ativos financeiros exteriores ao bloco nos últimos 12 meses, terminados em setembro, enquanto os investidores globais deixaram vencer mais 31,3 mil milhões de euros.
Tudo somado, 528,8 mil milhões de euros deixaram os mercados europeus este ano, a maior saída desce a criação do euro em 1999. A moeda única perde 5,7% desde que a vitória de Donald Trump lançou perspetivas de novas subidas das taxas de juro. Já este mês a Reserva Federal subiu juros pela primeira vez em 2016, e sinalizou uma subida mais íngreme das taxas em 2017, isto num momento em que o BCE continua sem dar sinais de adotar uma política mais restritiva.
Uma dicotomia que tem levado as ‘yields’ norte-americanas a descolarem das pares europeias, aumentando as perspetivas de retornos dos ativos norte-americanos. Um novo contexto que está a levar os investidores a deslocar os seus portefólios, vendendo euros e comprando dólares para investir nos mercados norte-americanos.
A fraqueza do euro face ao dólar em 2017 merece o consenso dos investidores, possivelmente até à paridade, mas o Deutsche Bank coloca mesmo a moeda europeia nos 95 cêntimos de dólar no final do próximo ano. O euro segue a cotar nos 1,039 dólares, em mínimos de janeiro de 2003.
Sim. O contribuinte português vai continuar a pagar a fatura do BPN – que já vai em mais de três mil milhões de euros – e outros encargos que o Estado assumiu na esfera financeira.
A forma como as crises bancárias são resolvidas mudaram nos últimos anos, com os novos mecanismos de resolução, mas os contribuintes continuam a ser chamados a resolver problemas sistémicos. E o ano de 2017 poderá trazer outros custos para o Estado português, ou pelo menos responsabilidades adicionais, dada a necessidade de encontrar uma solução para o crédito malparado da banca nacional.
A solução, que está a ser estudada por vários grupos de trabalho, sob a supervisão do primeiro-ministro António Costa, deverá passar pela venda dos créditos problemáticos a investidores privados. Mas poderá ser necessária uma garantia do Estado para libertar os bancos deste gigantesco fardo de 18 mil milhões de euros.
Por outro lado, para os bancos, esta passagem de ativos problemáticos para um veículo especializado poderá implicar a realização de novos aumentos de capital.
Mas o próximo ano deverá trazer a resolução de outros ‘dossiês’ pendentes no setor financeiro português. O primeiro será a venda do Novo Banco, que está em curso e que poderá ficar acordada já no início do ano. Outro será a recapitalização da CGD, que resvalou para 2017. Conseguirá o banco público, sob a liderança de Paulo Macedo, realizar a necessária emissão de obrigações subordinadas?
O processo de recapitalização da Caixa poderá ter consequências também na banca privada. A Deloitte levou a Caixa a reforçar as imparidades para crédito vencido e o BCP, que tem igualmente um volume elevado de crédito malparado, poderá ser obrigado a acompanhar essa política. BCP esse que poderá assistir a um reforço da Fosun e da Sonangol no seu capital.
O setor das empresas públicas de transportes é uma das maiores incógnitas para o ano que se avizinha. Com um brinde especial, uma vez que a TAP passou a fazer parte deste bolo-rei, a partir do momento em que o Governo de António Costa impôs que o Estado tivesse 50% na respetiva estrutura acionista. Apesar dessa linha ‘vermelha’, há muitas sombras para esclarecer. Terá a TAP o apoio financeiro que necessita da banca, na ordem de várias centenas de milhões de euros, para se poder restruturar e modernizar a frota? Enfim, para se tornar mais competitiva. E qual será o papel do Estado na gestão?
Em parceria ou em confronto? Não com um acionista privado, mas com três: Humberto Pedrosa, David Neeleman e o grupo chinês HNA. A presidência de Fernando Pinto parece garantida em todos estes cenários, mas como irão reagir os sindicatos à mudança de ares? Só 2017 poderá responder, mas existem suficientes nuvens no horizonte da transportadora aérea nacional, que tem sofrido nos últimos anos uma pressão constante das concorrentes low cost, com perda consecutiva de quota de mercado. Mais ligados à terra, temos a questão sobre como vai avançar o novo modelo de gestão das empresas públicas de transportes. Carris na órbita da Câmara Municipal de Lisboa.
STCP nas mãos de seis autarquias da Junta Metropolitana do Porto. O Metro de Lisboa permanece no Estado, mas como se irá abater a dívida gigantesca, quando há falta de capacidade de investimento e as queixas dos utentes se acumulam? O Metro do Porto continua a funcionar em regime de subconcessão a privados, mas como se irá financiar o plano de expansão da rede? A tudo isto, talvez seja preciso acrescentar uma almofada financeira para as eventuais indemnizações que o Estado português venha a ter que pagar aos grupos privados que tinham vencido os respetivos processos de privatização e reclamaram contra a reversão desses negócios em instâncias judiciais internacionais.
O ‘bull market’ vai continuar?
Os investidores estão otimistas. Acreditam que os índices norte-americanos vão continuar a bater máximos em 2017, prolongando assim o ‘bull market’ que começou em 2009, no rescaldo da pior crise financeira em mais de 70 anos. Um otimismo que está a ser alimentado pelo ambicioso pacote de investimento público anunciado por Trump, nomeadamente em infraestruturas, medidas de desregulamentação financeira e uma redução dos impostos para empresas e particulares, com impacto positivo nos lucros das cotadas.
O crescimento dos resultados é visto como uma condição essencial para introduzir algum racional financeiro nos níveis a que transacionam os índices. O S&P 500 está a negociar a 17 vezes os lucros estimados, o que compara com a média histórica de 15 vezes. Os investidores estão otimistas para setores cíclicos, como a tecnologia ou a indústria, além da saúde, construção e do setor financeiro que deverão beneficiar das medidas anunciadas pelo novo executivo.
Já para a Europa, os investidores estão convencidos de que existem oportunidades por explorar. A fraqueza do euro e a política monetária expansionista, aliadas à elevada volatilidade, deverão criar oportunidades de investimento, principalmente entre os títulos mais expostos ao ciclo económico e entre as exportadoras. No entanto, recomendam cautela dada a elevada incerteza em torno de questões como as negociações para o Brexit, as eleições presidenciais em França e na Alemanha e o sistema bancário, nomeadamente o italiano, que continua a aguardar por uma solução estrutural.
As ‘telecoms’ vão comprar a TVI e a SIC?
Talvez. Utilizando o jargão dos analistas financeiros, digamos que os rumores sobre o eventual interesse da Altice e da NOS em conteúdos audiovisuais têm contribuído para reforçar o ângulo especulativo de grupos de media nacionais como a Cofina, a Media Capital e a Impresa.
A tendência não é nova (a PT tentou comprar a TVI, lembra-se?), pois há anos que os conteúdos são vistos como fatores decisivos na concorrência entre operadores de ‘pay tv’. Mas o tema ganhou força redobrada com a compra, há dois anos, da PT Portugal pelo grupo francês Altice.
A estratégia do grupo francês, liderado pelo magnata Patrick Drahi, inclui investimentos no negócio dos media, nos países onde está presente.
Portugal não é exceção e a Altice começou por se interessar pela Cofina, a empresa proprietária do Correio da Manhã e da CMTV. Segundo uma fonte próxima do processo, as coisas estavam bem encaminhadas, mas um telefonema de Paris pôs um fim abrupto aos contactos entre a Altice e a Cofina. O interesse da Altice voltou-se então para a Media Capital, o grupo proprietário da TVI, tendo sido publicadas várias notícias que davam conta de um acordo iminente. E embora o presidente da PT Portugal, Paulo Neves, tenha então garantido que não existiam negociações para a compra da TVI, não desmentiu que essa possibilidade estivesse a ser equacionada pela Altice.
O certo é que, a ocorrer, este passo dará início a uma guerra pelos conteúdos audiovisuais, pois a principal concorrente da Altice, a NOS, poderá responder com uma oferta de compra pela Impresa, o grupo dono da SIC.
A seu favor, a Altice e a NOS têm o facto de os principais grupos de media nacionais estarem altamente endividados e com margens cada vez mais pressionadas devido à queda do investimento publicitário.
Não. Apesar da advertência do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre o facto de Portugal ter registado a 15ª maior subida anual nos preços da habitação, mostrando que estamos quase de volta a preços pré-crise, os economistas do FMI informaram que não se deve entrar em pânico, mas importa reforçar a vigilância.
Esta subida deve-se ao desequilíbrio que se está verificar entre a oferta e a procura de casas. Sobretudo, com o crescente interesse dos investidores estrangeiros, principalmente nas cidades de Lisboa e Porto.
Portugal tem vindo a ganhar notoriedade internacional, não só ao nível de investimento como de atração turística e isso verifica-se no aumento de projetos de reabilitação nos centros históricos das duas cidades, dirigidos depois para o imobiliário de luxo ou para unidades de turismo, em especial para o alojamento local.
Uma situação que se está a tornar um obstáculo para as famílias portuguesas que procuram uma casa compatível com as suas necessidades. A subida de preços, devido à escassez da oferta, não é correspondida nos rendimentos familiares que, com a entrada de investidores a ‘puxar’ preços, são obrigadas a um maior esforço para comprar ou arrendar uma habitação.
Apesar deste cenário, os especialistas afirmam que em 2017 o mercado ainda será dinâmico quer para o imobiliário de luxo, quer para o mercado tradicional, visto que a banca mostra também sinais de maior abertura à concessão de crédito à habitação.
A par disto, a prioridade de uma política de cidades, de habitação e a recuperação da atividade das empresas do setor anunciada pelo Governo para 2017, pode resultar num equilíbrio do mercado imobiliário.
Talvez. Foi campeão no Benfica em 2014, no ano seguinte repetiu e ainda fez uma polémica viagem pela segunda circular para treinar o rival lisboeta. Em 2016, só a falta de pontaria de Bryan Ruiz no dérbi impediu Jorge Jesus de levar o Sporting ao primeiro campeonato desde 2002.
Passados sete meses, a posição de Jesus não é ainda precária mas meia época fraca já fez surgir descontentamento entre os adeptos. A saída das competições europeias às mãos do Légia de Varsóvia foi vista como fruto das mexidas de Jesus. Nova derrota com o Benfica foi seguida de críticas à arbitragem, mas o desaire frente ao Braga relegou o Sporting para quarto lugar e viram-se lenços brancos em Alvalade.
No dia seguinte, 30 elementos da Juve Leo foram falar com Jesus. Mustafá, líder da claque, disse que “foi uma manifestação de tristeza e de apoio, de apoio nos bons e nos maus momentos. O que pedimos? Queremos ser campeões. A resposta? Que vamos ser campeões”.
A oito pontos do topo, a tarefa não é impossível, mas também não é fácil, numa altura em que o Benfica é consistente nos resultados, embora não nas exibições, e o Porto renovado, mas a oscilar entre meses bons e medíocres.
Jesus terá ainda de corrigir erros de ‘casting’ no inverno e lidar com uma situação turbulenta internamente. As eleições para a presidência são já em março. Este semana, o empresário Pedro Madeira Rodrigues disse que o Sporting “não pode continuar a ser um clube adiado” e entrou na corrida para substituir Bruno de Carvalho, que mantéve o tabu durante pouco tempo – anunciou a recandidatura ontem.
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