O mercado automóvel nacional está a crescer. Tanto nos veículos novos como nos usados. E acima da média esperada pela ACAP, associação que representa o setor no que respeita a veículos novos. Os dados divulgados por esta associação revelam um aumento de 7,8% nas vendas durante os sete primeiros meses de 2017, para 144.730 unidades, bem acima das previsões iniciais, que eram de apenas 2%. A manter-se a tendência e o ritmo de crescimento, o mercado nacional de veículos novos deverá valer mais de 223 mil automóveis, um valor recorde, que só tem rival no distante ano de 2002, quando foram vendidos 225.477 veículos ligeiros.
Os dados da ACAP revelam que o mercado de usados está em muito melhor forma que o de veículos novos. Com 801 mil unidades registadas em 2016 (dados ACAP), este mercado vale atualmente cerca de três vezes mais que o mercado dos novos, ainda que o valor seja inflacionado pelo aluguer de longa duração (ALD), que cria um novo registo sempre que acaba um contrato sem que haja, de facto, uma venda. Apesar disso, os dados servem para provar o crescimento que este mercado está a conhecer, contribuindo decisivamente para que, com grande grau de certeza, este ano seja ultrapassada a fasquia de um milhão de automóveis vendidos.
Alavancas do crescimento
O crescimento a que se assiste é, em grande medida, impulsionado por dois fatores: o aumento do turismo e a forte recuperação da confiança na economia, que levou ao aumento do crédito ao consumo, onde o crédito automóvel domina as atribuições. Em junho, o montante de crédito concedido para a aquisição de automóveis representava já 234 milhões de euros, uma variação homóloga de 20%, segundo os dados revelados pelo Banco de Portugal, que o colocava como o que mais crescia entre os créditos concedidos aos consumidores, representando 41% do total.
Entre os créditos concedidos para a compra de automóvel, crescia mais o montante concedido para compra de carro usado (valendo mais de 60% do total) do que para a compra de carro novo. A explicação passa necessariamente pelo preço mais baixo destas propostas – até porque a opção por carro usado “contorna” o pagamento de impostos como o ISV ou o IVA – mas também pela maior oferta no mercado dos chamados “seminovos”, impulsionada pela maior rotatividade dos modelos das rent-a-car, que, por sua vez, deriva do crescimento que tem vindo a ser observado no turismo.
Até julho, e uma vez que a procura das empresas de aluguer por carros novos é sempre maior nos meses que antecedem o verão, foram vendidos 41.446 carros novos para aluguer, o que representa quase um terço do total do mercado de ligeiros (28,6%). Por isso, não são de estranhar as declarações de Ricardo Tomaz, diretor de comunicação da SIVA, à revista Sábado. “O mercado automóvel está a ser impulsionado pelas rent-a-car, que deverão representar perto de 25% do mercado total”, diz o responsável. Em declarações à mesma revista, Joaquim Robal, secretário-geral da ARAC-Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, vai mais longe: “Sem as rent-a-car, o mercado valeria pouco mais de metade.”
Apesar do grande peso dos veículos usados, tanto no total das vendas como na concessão de crédito, os veículos novos também têm crescido à boleia da maior disponibilidade do crédito, tanto no setor bancário tradicional como através das financeiras das próprias marcas, que usufruem do aumento da procura do crédito por parte dos consumidores para gerar mais negócio. Como afirma Ricardo Tomaz, “a maioria das vendas é feita a crédito ou em renting”, com muitos particulares a começarem a apostar “no renting com tudo incluído”.
Este é um bom negócio para as instituições financeiras das marcas, que previnem os construtores de serem demasiadamente afetados em alturas em que os bancos “fecham a torneira”, mas também para os bancos tradicionais. Não apenas porque este é um produto com taxas de juro atrativas, mas também porque a melhoria da economia e a queda do desemprego contribuem para que o risco de incumprimento seja menor e permitem a redução dos spreads.
Campeões de vendas
Quem beneficia com esta mexida no mercado são, naturalmente as marcas de automóveis. Entre os segmentos que mais crescem há que destacar os SUV (que já valem perto de 25% do mercado e têm dominado os lançamentos mais recentes da maior parte das marcas de automóveis) e os monovolumes, sendo que, no total, as gamas porque os portugueses mais optam são as inferior e médio inferior.
Entre as marcas, é a Renault que se mantém no topo das vendas do mercado luso nos primeiros sete meses do ano, com um total de 20.669 unidades vendidas até julho deste ano, mais 23,8% do que em período homólogo de 2016. O construtor francês detém 14,28% do mercado, ultrapassando por quase cinco pontos percentuais a compatriota Peugeot, a segunda mais vendida em Portugal este ano, com 13.775 unidades comercializadas e 9,52% de quota de mercado.
Em terceiro lugar surge a Volkswagen, cujos 10.775 carros vendidos até julho correspondem a uma quebra homóloga de 3,5% e a 7,44% de quota de mercado. Apesar da descida nas vendas, a marca alemã consegue bater a sua congénere Mercedes-Benz, que não vai além das 10.362 unidades vendidas e dos 7,16% de quota de mercado. A fechar o top five dos primeiros sete meses do ano surge a BMW, que até julho vendeu exatamente os mesmos 9302 carros que havia conseguido em 2016. Ainda assim, a sua quota de mercado desceu, sendo agora 6,43%, menos 0,5% do que há um ano.
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