Faz no dia 25 de março 60 anos que foram assinados em Roma os Tratados que instituíram a Comunidade Económica Europeia (CEE) e a Comunidade Europeia da Energia Atómica (EURATOM), dando sequência ao projeto lançado por Schuman e Monnet em 1951, com a criação da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).

Inicialmente concebidas como um projeto pacificador, em cuja génese estiveram dois dos rivais do conflito que grassou no Mundo no final da década de 30 e na primeira metade da década de 40 do século XX, as Comunidades Europeias rapidamente se transformaram em sinónimo de prosperidade, sendo vistas como as responsáveis pelo crescimento económico e pelo aumento do bem-estar das populações dos Estados Membros.

Viviam-se, então, os tempos da euroeuforia, em que o projeto europeu, com apenas seis países no seu interior, era jovem e inspirador, motivando quase todos aqueles que estavam fora deste clube restrito a querer a ele aderir.

Certo que nem sempre de rosas viveu a história desta União, tendo as décadas de 70 e a primeira metade da década de 80 do século XX ficado marcadas pelo fenómeno do neoprotecionismo, o qual colocou o projeto europeu numa situação comatosa (euroesclerose), de que procurou sair através da redefinição dos seus objetivos no Ato único Europeu, que apontou o mercado interno como fim último a alcançar pelas Comunidades Europeias.

Com Jacques Delors no comando das operações, as Comunidades Europeias souberam ganhar um novo ímpeto, dando um salto em frente com a instituição de uma união económica e monetária entre a maioria dos seus membros e a criação da União Europeia (UE).

Ditado por razões predominantemente políticas, o Tratado de Maastricht, que instituiu a UE e apontou para a criação da moeda única, constituiu uma reforma profunda dos Tratados originários, deixando na penumbra as dificuldades económicas que certamente resultariam da instituição de uma união económica e monetária coxa, com uma vertente económica minimalista e sem o amparo de um pilar político que lhe desse suporte.

Depois de alargamentos precipitados a um número nunca antes visto de países, a maioria sem condições económicas e políticas para se juntar tão precocemente a um clube com um andamento superior, a UE procurou, sem sucesso, reformas tímidas, indo de Tratado em Tratado e marginalizando cada vez mais populações sedentas de encontrar um responsável pela crise económica que se vivia.

O século XXI mostra uma Europa velha e cansada, sem liderança, incapaz de dar resposta a problemas essenciais com que os seus cidadãos se confrontam diariamente, como o crescimento económico, ou a ausência deste, o desemprego, os fenómenos migratórios, a ausência de uma estratégia credível no plano internacional, a crise da dívida, o populismo exacerbado que se vive em muitos países, a vontade de abandonar o barco que começa a fazer-se sentir após o referendo britânico, que ditou o afastamento a curto prazo dos britânicos de um projeto no qual nunca estiveram de alma e coração.

É urgente reformar a Europa. É imperativo encontrar uma liderança capaz de imprimir um novo rumo para um projeto fundamental para a paz e estabilidade do Velho Continente. A manutenção do status quo determinará, no médio/longo prazo, a implosão de um projeto cheio de virtualidades, mas que está velho e cansado, entregue a um conjunto de Velhos do Restelo incapazes de nos projetar na cena internacional e de nos fazer guindar aos sucessos do passado.

Sem uma reforma profunda da UE, assente em diversas velocidades, adequadas a um conjunto de países com motivações diferenciadas e condições excessivamente heterogéneas para integrar uma mesma carruagem, faremos com que o comboio europeu descarrile definitivamente, conduzindo ao desaparecimento de um projeto que tem definhado a olhos vistos.