Os mais recentes números da inflação nos EUA mostram que a subida dos preços alastrou a toda a economia, de uma forma global, e que o objectivo dos 2% está mais difícil de atingir em 2024. Na sequência da subida de 0,6% da inflação, face a 0,2% em Dezembro, vários membros da Reserva Federal dos EUA (Fed) vieram reabrir o debate em torno da velocidade da subida dos juros, abrindo a porta para mais 0,5% em Março.

Espera-se agora que as taxas atinjam um pico de 5,5% até Junho, tendo os riscos de uma recessão aumentado, tanto nos EUA como na Europa. Os juros irão diminuir apenas em 2024, quando a Fed tiver a certeza de que a inflação permanece abaixo da taxa de juro durante algum tempo, certificando-se assim do ajustamento das expectativas de inflação por parte de todos os agentes económicos.

Começam, por outro lado, a existir sinais daquele que será o despertar para um mundo de taxas de juro excessivas, num contexto de endividamento substancialmente mais elevado, que derivou do combate à pandemia e do dinheiro barato colocado à disposição dos governos.

A American Car Center, empresa dedicada à venda de carros em segunda mão, anunciou o encerramento das suas actividades, despedindo todos os seus colaboradores. Há um ano, saindo da pandemia, o preço dos carros em segunda mão disparou, à medida que o constrangimento na produção de novos veículos se propagava um pouco por todo o mundo e que a procura retomava.

Um ano depois, com as taxas da Fed próximas dos 5%, também o crédito automóvel está em dificuldades. Os pagamentos das prestações dispararam, em muitos casos 50%, e o nível de incumprimento começa a aumentar, ameaçando algumas empresas do sector, nomeadamente as que têm um negócio financeiro associado.

Na Europa, a inflação preliminar de Fevereiro desacelerou menos do que o esperado, mantendo-se acima dos 8%! Apesar da diminuição recente dos preços dos combustíveis, petróleo e gás, o impulso da subida de preços registada em 2021 e 2022 enraizou-se na formação de preços na indústria e serviços.

A taxa terminal para o Banco Central Europeu (BCE) está agora prevista para os 3,75%-4%, valores que serão incomportáveis para muitas famílias, não só no crédito à habitação, mas também no crédito ao consumo que, entretanto, acumularam. O BCE deverá agora subir mais duas vezes os juros em 0,5%, e duas de 0,25%, para os valores mais elevados desde o início do milénio. As descidas de juros deverão chegar apenas em 2024, e também de forma progressiva.

Embora não seja explícito, os bancos centrais estão a tentar, num ano, reverter a política expansionista da última década de juros negativos, o que terá consequências económicas e sociais. Apesar do apoio dos governos europeus à subida dos juros, as famílias e empresas necessitam de preços mais baixos, não de subsídios nem de apoios, que apenas servem para manter o consumo artificialmente alto e justificar a contínua subida dos preços.

Há que procurar a causa do enraizamento da subida de preços, numa altura em que o preço da energia já diminuiu substancialmente e em que os impostos por lucros excessivos pouco resolvem, pois limitam-se a aumentar as receitas fiscais e a impedir a descida de preços.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.