Um relatório de inteligência produzido pelo governo norte-americano concluiu que um grupo pró-ucraniano foi o responsável pelo ataque aos gasodutos Nord Stream no mar Báltico em 2022, segundo o “New York Times”. Perante a informação recolhida, Washington concluiu também que não existem provas do envolvimento do Governo ucraniano.
Há sete meses várias explosões subaquáticas danificaram permanentemente os gasodutos que transportavam gás natural da Rússia para a Alemanha. Os ataques tiveram lugar no espaço marítimo entre a Suécia e a Dinamarca, que concluíram que os ataques foram deliberados.
“A Ucrânia não está envolvida nos ataques aos gasodutos. Não faz sentido”, disse Mykhailo Podolyak, assessor de Volodymyr Zelensky, citado pela “Reuters”.
Os Estados Unidos e a NATO qualificaram os ataques de 26 de setembro como um “ato de sabotagem”. Já a Rússia considera que “os autores do ataque querem desviar as atenções”, disse o porta-voz do Kremlin Dmitry Peskov.
Segundo o “NYT”, os sabotadores devem ser de nacionalidade ucraniana ou russa, e ficou afastada a hipótese de serem norte-americanos ou britânicos.
Os explosivos foram colocados recorrendo a mergulhadores experientes que, aparentemente, não estavam a trabalhar para serviços militares ou de inteligência. No entanto, poderão ter recebido treino especializado por parte de um país no passado.
O “NYT” destaca que serviços de inteligência na Europa estão a investigar 45 navios fantasma (com os sistemas de deteção por satélite desligados) que passaram pela área da explosão.
O jornal norte-americano destaca que um eventual envolvimento ucraniano, direto ou indireto, seria complicado de gerir nas relações entre a Ucrânia e a Alemanha, país que foi muito afetado com a grande redução nas compras de gás russo. Além disso, se houvesse envolvimento de Kiev, a unidade europeia em torno da Ucrânia também poderia ser afetada.
O jornal dá vários exemplos de ataques ucranianos que deixaram os Estados Unidos à beira de um ataque de nervos, como a destruição da ponte no estreito de Kerch que liga a Rússia à Crimeia, ou ataques de drones a bases militares na Rússia, ou o ataque à base aérea russa de Saki na Crimeia. Outro ataque considerado problemático foi o atentado que matou a filha de um nacionalista russo em Moscovo, em agosto de 2022; que foi autorizado por “elementos” do governo ucraniano.
Há umas semanas, o jornalista de investigação norte-americano Seymour Hersh revelou que o ataque aos gasodutos teve a autoria do governo norte-americano (algo desmentido por Washington). Os engenhos explosivos foram plantados por mergulhadores da Marinha norte-americana em junho de 2022 durante um exercício da NATO no mar Báltico, segundo uma fonte citada pelo repórter. Mas acionar o engenho pouco depois dos exercícios da NATo era muito arriscado. Foi por isso que pediram a colaboração da Noruega para poderem operar a partir deste país aliado. O local escolhido foi ao largo da ilha de Bornholm na Dinamarca, por ter águas pouco profundas. Instalado o explosivo C4, foi preciso esperar três meses. Então, a 26 de setembro, um avião da Marinha norueguesa largou no local uma boia sonar que emitiu um sinal para os explosivos serem detonados. Horas depois, três dos quatro gasodutos estavam permanentemente danificados. Os mergulhadores que alegadamente prepararam a operação no Diving and Salvage Center da US Navy na Panama City, localizada no estado da Florida. A Casa Branca considera que o relato do jornalista é “falso e uma completa ficção”.
Hersh recordou que em 1971 a CIA e a NSA conseguiram obter informações valiosas da União Soviética espiando um cabo submarino no mar de Okhotsk, no leste do país, recorrendo a mergulhadores, submarinos e um veículo subaquático. Todos os meses, os operacionais tinham de deslocar-se ao local para substituir o dispositivo que permitia gravar as comunicações. A operação Ivy Bells durou mais de uma década até ser exposta.
O jornalista destacou no seu artigo que Washington era um grande crítico da entrada em operação do Nord Stream 2, que ainda aguardava luz verde do regulador alemão, porque iria trazer mais gás natural russo barato para a Europa, numa altura em que a Ucrânia já tinha sido invadida.
Curiosamente, semanas antes da invasão, em fevereiro de 2022, o presidente norte-americano disse: “Se a Rússia invadir… não vai haver mais o Nord Stream 2. Vamos colocar-lhe fim”. A fonte citada por Hersh comentou esta declaração pública de Joe Biden: “seria como colocar uma bomba atómica no metro de Tóquio e dizer aos japoneses que vamos detonar. O plano foi pensado para ser executado pós-invasão e não ser anunciado publicamente. Biden não percebeu ou ignorou-o”.
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