Estamos de novo suspensos do que Jerome Powell & Friends vão decidir dentro de duas semanas: quanto vai a Reserva Federal dos EUA subir as taxas de juro. A probabilidade é 75% de ser um aumento de meio ponto, isto porque em janeiro a taxa de inflação caiu de 6,5% para 6,4%, inferior aos 6,2% esperados, o que levanta preocupação sobre a sua persistência.

Não basta que a taxa caia, é importante que caia suficientemente depressa. A taxa de inflação tem-se tornado a bússola da política económica, e a news release do US Bureau of Labor Statistics o evangelho moderno dos preços.

A inflação é o inimigo público n.º 1. Destrói as poupanças de uma vida de trabalho e premeia quem se endividou imprudentemente. Milton Friedman dizia que é cobrar impostos sem aprovar uma lei e Ronald Reagan que é violenta como um carteirista, assustadora como um ladrão armado e mortal como um assassino.

É o pior tipo de doença, põe doente quem julga que está mesmo que não o estivesse, o que em Economia se chama uma self-fulfilling prophecy: se eu estiver convencido que os preços vão subir, vou pedir um aumento do salário, e o aumento de custos que ele gera vai fazer subir os preços; ou vou antecipar compras que vão fazer subir preços. Daí a importância da estabilidade dos preços.

Ora, este ano as projeções do FMI são de 3,5% nos EUA, 4,6% na França (praticamente o mesmo em Portugal), 4,9% em Espanha, 5,2% na Itália, 7,2% na Alemanha, 9% no Reino Unido e 14,2% na Polónia. São diferenças significativas, e já dizia de Gaulle que é impossível gerir um país com 300 variedades de queijo.

Tudo aponta num sentido: é importante perceber o que influencia as expectativas de inflação, para as “ancorar” e afinar a política económica, evitando pecar por excesso ou defeito no dosear das subidas de juros e criar sobrecustos no ajustamento económico. Ora, não é fácil saber o que vai na cabeça das pessoas.

A investigação aponta para conclusões importantes: as expectativas não são uniformes entre famílias, são difíceis de mudar e são formadas sobre um conjunto limitado de produtos; a inflação é vista como sendo mais elevada e persistente do que acaba por ser. Tudo no sentido da importância da política económica, até para moderar expectativas, e no valor da sua credibilidade – o que se anuncia tem que ser feito.

Ou seja, o que arde, cura. E é muito importante que a mensagem seja clara para que não-peritos a percebam e possam antever o que devem esperar. Já Irving Fisher mostrava que melhor conhecimento e informação reduzem a diferença entre inflação esperada e realizada.

Uma nota interessante: numa altura em a igualdade é um valor, as mulheres esperam aumentos de preços mais altos que os homens, e isto independentemente de rendimento, nível de educação ou local de residência. Para os mais curiosos, acredita-se que é porque compram combinações diferentes de bens: outra diferença.