Como aqui escrevi no devido tempo, a TAP tornou-se o Vietname deste Governo. O pecado original foi a sua nacionalização e são demasiadas baixas nesta “guerra” entre membros do Governo e cargos de topo da companhia. É uma sangria desatada num mar de opacidade e omissões, de irresponsabilidade e incompetência, de leviandade e amadorismo.

Com a decisão de Fernando Medina de decapitar a direcção da TAP, conseguiu-se esvaziar a comissão parlamentar de inquérito com a excepção do administrador financeiro, Gonçalo Pires, que devia ter ido nesta leva e fica, incompreensivelmente, apesar de nada ter dito da indemnização de Alexandra Reis à tutela das Finanças que o nomeou.

Medina esteve bem na decisão de tentar restabelecer alguma confiança dos portugueses na TAP, depois da fita em torno da indemnização pornográfica, foi ágil na escolha de um nome credível para a liderança da empresa e deu um passo importante para a transparência do processo ao disponibilizar o relatório da Inspeção-Geral de Finanças (IGF) e de imediato revelar o salário de Luís Rodrigues, bem como o de não ter prémio de desempenho.

Falta, contudo, o que vem por aí. É que a presidente da TAP já fez constar, primeiro, que nem sequer foi ouvida pela IGF (é, no mínimo, estranho que não tenha sido confrontada com as apresentadas práticas alegadamente irregulares); depois, sibilinamente, já colocou na imprensa o seguinte: “para a gestora, nenhuma infracção, de natureza financeira ou outra, lhe poderá vir a ser imputada”.

Tradução? O que este recadinho com sotaque francês significa é que vai litigar contra o Estado e bater-se por uma choruda indemnização, provavelmente maior do que a de Alexandra Reis, sem esquecer que tem todas as decisões e documentos do seu lado, o que pode fazer mossa e correr muita tinta nos jornais.

Pedro Nuno Santos já saiu e, mesmo com a caricatural nota de imprensa onde revelava que tinha conhecimento e aprovava a indemnização a Alexandra Reis, via WhatsApp, o alvo de marcação cerrada por parte da oposição será Fernando Medina e o administrador financeiro, que é um erro crasso por lá continuar. Assim serão as cenas dos próximos capítulos desta trágica novela que custou 3,2 mil milhões a todos nós.

Da Igreja espera-se conforto, empatia, compaixão. Após a apresentação do relatório da comissão independente sobre os abusos sexuais, quem melhor descreveu o comportamento miserável da Conferência Episcopal portuguesa foi Daniel Sampaio: “a Igreja não se colocou ao lado das vítimas”. Pois não, portou-se como a pior das corporações.

Fria, insensível, insensata também, e apenas preocupada em defender os seus. Marcelo Rebelo de Sousa fez bem em relembrar que, noutras partes do globo marcadas pelas mesmas vicissitudes, as respectivas Igrejas indemnizaram as vítimas, ao contrário da lamentável intervenção do cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Mas o mais importante, aquilo que todos os católicos e a restante comunidade aguardavam, era que os padres acusados de pedofilia fossem de imediato, e preventivamente, afastados das suas paróquias.

A Igreja fez orelhas moucas e manteve a confiança nestes lobos com pele de cordeiro, o que é uma ignomínia e um sinal trágico de que a Igreja portuguesa não está próxima das pessoas e não percebeu nada do que se passou.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.