O Jornal Económico (JE) noticiou na semana passada que o Ministério das Finanças chamou advogados externos para ajudar a reforçar a justa causa invocada para despedir a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener.

Na sequência da nossa notícia, o ministro das Finanças, Fernando Medina, disse a vários orgãos de comunicação social que o Governo não recorreu à ajuda de sociedades de advogados para tentar fundamentar a saída da CEO da TAP. Na ocasião, o ministro falou do que diz ser “uma campanha com várias notícias que depois foram sendo divulgadas e não correspondem minimamente à verdade”.

Com exceção da que acima menciono, não sabemos a que notícias se refere Fernando Medina. De resto, o JE não participa em “campanhas”, para além das que periodicamente lançamos para conquistar novos assinantes e que, obviamente, são de outra natureza. Nada nos move a favor ou contra o ministro das Finanças, o Governo ou o político A ou B. Não existimos para fazer política, mas sim para tentar chegar o mais próximo possível da verdade, de maneira a podermos informar os nossos leitores.

De resto, parece difícil sustentar que haja uma campanha de notícias falsas sobre a TAP na comunicação social portuguesa. Em contrapartida, por força das circunstâncias, o Governo tem frequentemente dito hoje uma coisa e amanhã outra, comprovando que neste tema tão sensível a realidade política consegue ser perigosamente dinâmica.

Constatamos isto no caso do bónus da CEO da TAP. A 3 de fevereiro, o JE revelou que o bónus de Ourmières-Widener poderá chegar a três milhões de euros, mas que o mesmo não poderá ser pago sem que o contrato seja ratificado pela assembleia geral da companhia, algo que deveria ter sido feito há dois anos. No mesmo dia, após um longo silêncio de muitas horas, o ministro João Galamba garantiu aos jornalistas que o Governo iria cumprir tudo aquilo que tinha acordado com a gestora.

Hoje, um mês e meio depois, o ministro das Infraestruturas já não terá tantas certezas sobre a legalidade do bónus, até porque a CEO prepara-se para exigir uma indemnização milionária com base no tal contrato que não chegou a ser ratificado.

Na mesma altura, João Galamba foi confrontado pelo JE com o facto de o Governo estar a sondar nomes para substituir Christine Ourmières-Widener no cargo de CEO da TAP. Luís Rodrigues estava à cabeça de uma lista de três gestores. Galamba negou de forma taxativa e garantiu que o seu gabinete emitiria um desmentido oficial se o JE avançasse com essa notícia. Ainda assim, o JE escreveu-a. Quatro semanas depois, o Governo demitia Christine Ourmières-Widener e anunciava a escolha de Luís Rodrigues para futuro CEO.

Entretanto, no final de fevereiro, o JE revelou que, para além da TAP, há pelo menos 12 empresas públicas sem contratos de gestão aprovados pelas Finanças, impossibilitando a fixação de objetivos e o pagamento de prémios aos seus administradores.

Foi no seguimento destas e de outras notícias que, na edição da semana passada, revelámos que o Governo falou com sociedades de advogados para ajudarem a fundamentar a justa causa invocada para afastar a CEO e o chairman da TAP. E esta semana, juntamente com um texto de “Direito de Resposta e Retificação”, onde o Ministério das Finanças procura desmentir a notícia da semana passada, damos conta de que Jorge Bleck, sócio da Vieira de Almeida & Associados, confirma ao JE ter sido contactado pelo Governo para ajudar a “dar sequência às conclusões do parecer da Inspeção Geral de Finanças relativamente à CEO e ao chairman” da TAP.

Aguardemos pela Comissão Parlamentar de Inquérito ao caso TAP para perceber se esta aparente contradição se explica com questões de semântica.