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França tem um plano. Como captar imigrantes de luxo em fuga do Brexit

Impostos mais atrativos, uma legislação amiga dos negócios e até uma escola especial para os filhos de banqueiros e funcionários de topo que vão deixar Londres, fazem parte da estratégia gaulesa para ‘chamar’ os que não querem deixar a União Europeia.
12 Julho 2018, 17h22

Com a contagem decrescente para o Reino Unido sair da União Europeia a andar a passos largos, os países da União Europeia estão a preparar-se para receber possíveis ‘exilados’ do setor financeiro e a França já se posicionou como um destino potencial: o primeiro-ministro, Edouard Philippe, antecipou algumas medidas persuasivas, como a simplificação de impostos ou uma escola para expatriados.

Paris, sendo um centro financeiro de referência, é um dos mais prováveis destinos de muitos banqueiros que não querem ficar de fora da União Europeia quando o Reino Unido deixar de fazer parte do agregado. Foi isso que levou Edouard Philippe a apresentar, perante mais de 200 personalidades do setor, um centro financeiro.

Segundo disse, “para ser consistente, um centro financeiro é construído com paciência e eu quero que essa consistência esteja na nossa estratégia económica e política de atração” dos que querem deixar o Reino Unido. A seu modo uma antecipação das autoridades francesas às agências comunitárias, incluindo a Autoridade Bancária Europeia (EBA), ou aos bancos (como o JP Morgan) que se preparam para transferirem os seus funcionários de Londres para o interior da União.

Com a intenção de superar outras cidades como Dublin, Frankfurt ou Luxemburgo, o primeiro-ministro anunciou medidas destinadas a simplificar os impostos. Em particular, as autoridades francesas querem terminar no final do ano com as transposições das diretivas europeias relativas à legislação francesa.

Entre as novidades, o governo gaulês anunciou que os “juros cobrados” fora das fronteiras nacionais serão tributados em França como receita do capital e não do trabalho. Isso significa que os expatriados podem beneficiar de um imposto fixo de 30%.

França quer também suavizar as regras para abrir ou expandir negócios. Para isso, a administração francesa criará uma espécie de balcão único para que os interessados possam aprender sobre o regime tributário que vão encontrar.

Medidas económicas serão acrescentadas àquelas já confirmadas pelo presidente Emmanuel Macron e que são esperadas antes de 2019. Entre elas, a redução do Imposto sobre as sociedades de 32% para 25% ou a supressão do imposto sobre os grandes patrimónios (conhecido como o imposto de saída, dado que levou muitos residentes a deixar o país – o ator Gerard Depardieu foi um deles – ou o imposto sobre os ricos).

Esta medida, claro está, não vai incidir apenas sobre os que chegam de novo ao país, pelo que Macron tem tido que aguentar uma ‘bateria’ de protestos vinda principalmente dos partidos de esquerda. Mesmo assim, pelo menos para já, não vacilou.

Edouard Philipe anunciou ainda a criação de uma escola em Courbevoie para albergar entre 300 e 400 crianças filhas destes imigrantes de luxo que chegam a França. A escola, prevista para abrir em 2019, quer atender a características pedagógicas específicas; proporcionaria, por exemplo, ensino na língua materna sem estar sujeito ao limite de pelo menos 50% de instrução em francês. A futura escola destina-se também aos filhos dos funcionários das agências europeias estabelecidas na capital.

O lóbi financeiro da Europlace, citado pelos espanhóis do ‘El Economista’,  calculou que Paris estaria pronta para receber 3.500 empregos no setor quando o Reino Unido deixar a União Europeia, em março de 2019. Quais entidades estariam interessadas? Segundo a Europlace, o HSBC estaria no primeiro lugar da fila, com a transferência de mil trabalhadores, enquanto os próprios bancos franceses acrescentariam outros mil a trabalhar neste momento em Inglaterra. O restante viria de uma série de bancos de Wall Street e outras firmas financeiras internacionais.

O Bank of America, Merrill Lynch, JP Morgan, Citigroup, Morgan Stanley, Goldman Sachs, Standard Chartered e Wells Fargo teriam feito ‘anúncios a favor de Paris’, disse a associação. No início deste ano, o presidente Macron tentou persuadir executivos como o CEO do Google, Sundar Pichai, ou a diretora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg, a investir mais no país.

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