Foi só a 10 de Março que o Silicon Valley Bank faliu, mas parece que já foi há uma eternidade, tal a catadupa de eventos que se seguiram. Nos EUA, já caíram três bancos, a garantia dos depósitos foi alargada a todos os montantes e há repetidas intervenções públicas de tentativa de tranquilização do público por parte das autoridades.

Na Suíça, o segundo maior banco, o Credit Suisse, com 167 anos de antiguidade, foi comprado de emergência pelo seu maior rival, o UBS, num processo um pouco estranho, em que não foi respeitada a ordem natural dos credores, já que houve uma classe de obrigacionistas que perdeu a totalidade dos investimentos, ao contrário dos accionistas, que ainda conseguiram preservar algum valor, ainda que pouco.

Em todos estes casos, o que desencadeou este desfecho foi uma corrida aos depósitos, que se estava a tornar insustentável. Para isso contribuíram erros por parte da gestão e por parte dos supervisores, que deixaram estes bancos vulneráveis. Mas houve também uma questão um pouco subjectiva: a perda de confiança, que demora a conquistar mas que se perde rapidamente. Pior ainda, a desconfiança é contagiosa, ultrapassando fronteiras mais depressa que uma pandemia.

Por agora, as perdas dos outros bancos com estas dificuldades bancárias são limitadas, embora venham sendo reveladas perdas, ainda assim contidas, no sector segurador português e nos fundos da Segurança Social. Mas é prematuro pensar que não teremos consequências na zona euro.

Por enquanto, há consequências económicas, que se devem traduzir em desaceleração da economia e, por isso, numa mais rápida queda da inflação. Já há alguns dados de queda da confiança na Alemanha, que se deverá generalizar às economias avançadas, conduzindo a um abrandamento da actividade.

Os bancos deverão estar inquietos e é de esperar que façam duas coisas: que apertem as condições de concessão de crédito e que aumentem a sua liquidez para além dos mínimos legais, para poderem fazer face a uma eventual corrida aos depósitos. Esta arrecadação de liquidez significa que menos ficará disponível para emprestar aos clientes, pelo que o crédito deverá ficar mais caro e mais raro.

Assim, a resposta dos bancos também deverá contribuir para um enfraquecimento da procura, o que deve ajudar a inflação a cair de forma mais rápida do que o previsto até agora.

Por seu turno, os bancos centrais enfrentam o que já foi denominado de trilema: conseguir em simultâneo domesticar a inflação, garantir a estabilidade do sistema financeiro e minimizar os custos sobre a actividade e o emprego. Espera-se que, entre eles, o BCE reconheça o efeito contracionista da actual desconfiança e que, por isso, suba menos as taxas de juro, dando razão aos mercados que levaram a quedas sensíveis da Euribor.

Se não surgirem mais efeitos (ou mais eventos), o efeito final sobre as famílias e as empresas até pode ser de algum alívio no custo dos créditos, embora também de menores perspectivas de crescimento e emprego.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.