Em 2017 escrevi um artigo que se intitulava: “O que os empresariozinhos têm a aprender com Rui Nabeiro”. Por ali explicava que os bons empresários estão para ganhar dinheiro, naturalmente, mas isso não é tudo na vida. A responsabilidade social é cada vez mais importante para a reputação dos mesmos. Se perguntarem a opinião dos portugueses sobre os homens que comandam as nossas empresas, seriam poucos os que teriam avaliação positiva.

Há empresários e empresariozinhos que têm enorme notoriedade, mas a reputação é um abismo negro. Rui Nabeiro é dos poucos que consegue juntar as duas palavras mágicas – notoriedade e reputação – que são a base de construção de uma boa comunicação.

A empatia que os portugueses têm por ele deriva de inúmeros factores. A sua simpatia natural, a sua simplicidade, a sua proximidade e facilidade de contacto, o saberem que construiu a sua carreira a pulso, com muito trabalho, suor e aventuras que davam muitos livros, sem encostos ao Estado ou favores da penumbra dos salões, a sua preocupação de toda uma vida com os seus e as suas gentes.

Campo Maior, uma terra pequena e simpática no Alentejo, deve tudo ao homem dos cafés. Esse é o seu lado mais humano que encanta porque dignificou a sua fortuna construindo e contribuindo para o bem de uma comunidade. “Greed is good” era o mantra dos “yuppies” seduzidos pelo “killer-instinct” de Gordon Gekko, para quem dinheiro e ostentação eram o único fim dos negócios.

Agora, com a morte de Rui Nabeiro, perde-se um dos poucos portugueses unânimes – apesar de uma manada de mentecaptos desocupados e vencidos da vida ter vindo, de maneira nojenta, para as redes sociais tentar manchar um legado que se saúde e que tocou, para o bem, muitos milhares de famílias. Da esquerda à direita, de classes superiores ou mais desfavorecidas, há um reconhecimento e agradecimento pelo grande empresário e homem bom que foi.

Podia ter procurado outras geografias para desenvolver a sua actividade, podia ter sediado a empresa onde os custos de produção estariam mais baixos, mas escolheu sempre a sua terra porque, no fundo, acreditava em Portugal e nos portugueses. Se o leitor foi um dos que teve a oportunidade de visitar a sua fábrica – eu tive essa grata honra por duas vezes, e fui sempre recebido com uma enorme simpatia e optimismo por Rui Nabeiro – terá visto os seus trabalhadores sorridentes, produtivos, porque escolheu tratá-los bem todos os dias.

Um último dado relevante: foi responsável por algo também muito raro. A criação de uma Marca portuguesa, a Delta, forte no nosso território e presente noutros países, o que nos enche de orgulho, pois temos muito poucas Marcas portuguesas (com maiúscula). Um homem marcante, um grande português. Quem nos dera que Portugal tivesse 100 Ruis Nabeiros. Infelizmente, não temos essa sorte.

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.