1. Esta semana fica marcada pela comissão de inquérito da Assembleia da República aos mais recentes acontecimentos na TAP, e o que mais espanta é que tudo a que assistimos mais parece uma galeria de horrores. No momento em que escrevemos esta crónica, ainda não são conhecidas as declarações de Alexandra Reis.
Não obstante, o que constatámos foi deputados muito mal preparados sobre matérias ligadas à gestão de empresas, demonstrando não saberem minimamente o básico sobre como funcionam os conselhos de administração, as atas, os procedimentos, as precedências e o tipo de comunicações que são feitas ao mais alto nível das empresas.
Por outro lado, ficámos a saber como foi afastada a ainda CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, com uma série de trapalhadas envolvendo os ministros das Finanças e das Infraestruturas, e em que num caso com avisos à presidente de que iria ser demitida, e noutro parece que a gestora foi despedida pelo acionista sem que este tivesse aberto o jogo. Enfim, trapalhadas que darão “pano para mangas” aos advogados da gestora francesa.
O dado mais importante, apurado até agora, refere-se a um email do secretário de Estado Hugo Mendes, em que este revela o grau de cumplicidade e de reserva que o Governo quer manter com o Presidente da República, numa espécie de conluio de Estado sobre viagens de altas figuras da nossa República. Se isto não fosse verdade parecia inventado, ou tirado de um guião de comédia francesa dos anos 50 com Louis de Funès.
Um Estado não pode ser gerido assim e isto terá consequências graves nos próximos anos, para além de grandes mudanças políticas. E é por esta razão que os partidos antissistema, como o Chega, ou partidos novos e frescos, como a Iniciativa Liberal (IL), estão em alta e vão substituir os chamados “partidos do arco da governação”.
O PSD não percebeu ainda o que se passa, parece ir a reboque de tudo e o seu líder, Luís Montenegro, acorda dias depois para os principais acontecimentos, reagindo sempre tarde e a más horas. No início da semana reagiu às questões da habitação e da TAP, depois de ter andado uma semana em contactos com a emigração na Europa, quando o lugar do líder da oposição é em Lisboa, fazendo contraponto ao primeiro-ministro e reagindo sempre com dureza e rapidez, como têm feito os líderes do Chega e da IL.
Montenegro parece não ter entendido o que se passou com o CDS e o seu ocaso. Por este caminho condena o PSD a ser ultrapassado nas próximas eleições por um destes partidos e a cair na irrelevância, como aconteceu com o antigo partido francês de Jacques Chirac, o RPR (Rassemblement pour la République), que chegou a 23% do eleitorado francês e uns anos depois foi dissolvido, ou o caso do Forza Italia de Berlusconi, que hoje não vale mais de 8% do eleitorado.
2. O entretenimento, a falsidade, a mesquinhez e a mentira estão a proliferar entre a sociedade portuguesa. Há quem compare a atualidade a um dos livros queirosianos em que o leitor se foca no facto de Luisinha ter torcido o pé, quando o mundo à volta estava em crise.
O país tem a sensação de não ter rumo e todos esperam que o “melão” seja bem aberto para se perceber qual a linha a seguir. Do Governo temos impulsos e não estratégias. A mais recente foi a habitação. Criou-se um terramoto e agora é preciso reconstruir para ficar tudo na mesma. Passámos uns meses por uma deriva jacobina.