Uma coisa é o que os políticos acham, outra é o que as pessoas sentem. A última sondagem do “Expresso” é inequívoca. O PS perde sete pontos, mas o PSD não consegue amealhar com a impopularidade do Governo. Para os socialistas não se esperava outra coisa. Os custos da guerra que se repercutem na inflação, o assalto à mão armada que é uma ida ao supermercado e os juros do crédito à habitação a aumentarem, asfixiando as famílias da classe média, só podia resultar numa queda abrupta nos estudos de opinião.
António Costa recuperou nas duas últimas semanas o controlo político e marcou a agenda mediática com a ida ao Parlamento, apresentação da versão final do pacote para a Habitação – onde recuou em toda a linha, colocando no cerne desse diploma os municípios como sempre deveria ter sido, apesar de não ter falado com alguns deles, nomeadamente com o autarca de Lisboa – e subsequente entrevista macia na SIC, onde a única pergunta que lhe causou transtorno foi a primeira. Quando foi questionado sobre os objectivos e metas desse pacote e não soube responder porque não definiu objectivos nem metas.
Para lá disso, e apesar da dureza destes dias com a Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP, onde tem sido um regalo ver a leviandade com que foi tratado um dossier onde já injectámos 3,2 mil milhões do dinheiro de todos nós, o primeiro-ministro tem em Fernando Medina o claro número 2 do Governo, pois com os seus dados financeiros e económicos positivos está sentado numa almofada com uma folga orçamental que dará para saciar os mais carenciados a curto prazo.
O problema é o PSD. Não descola, não entusiasma, não se afirma, nem sequer lidera a oposição à direita entregue a André Ventura. Mas enquanto o PS tem o trunfo que continua a ser António Costa, factor de equilíbrio e acalmia no meio de uma arquitectura do caos instalado, os sociais-democratas têm um líder que não se consegue consolidar, que não entra nas elites (e sem isso não se ganham eleições) e não gera empatia com os portugueses.
Esforça-se? Claro que sim. É trabalhador? Sem dúvida, o que é uma vincada diferença face a Rui Rio, que passava parte do tempo junto do conforto do seu lar. Tem talento? Para líder parlamentar, indiscutivelmente, sim. Para outros voos subsistem muitas dúvidas.
Por isso, as eleições europeias ganham uma dramatização que não é habitual, crescem de relevância face à confirmação de que Luís Montenegro se retirará se não obtiver uma vitória. Logo, as esperanças laranjas recaem em Pedro Passos Coelho, o único homem com qualidade, competência e autoridade para federar à direita. Sendo que, da parte dele, nunca haverá qualquer traição ou rasteira no caminho do actual presidente do partido, porque a sua amizade é de betão. Contudo, se nas europeias Montenegro se afastar pelo próprio pé, fica o tapete vermelho lançado para o regresso. Só dependerá da sua vontade.
PS: Da demorada audição à presidente da TAP fica a triste notícia para todos os portugueses que será certa uma pornográfica indemnização paga pelo nosso dinheiro pela “justa causa” anunciada para o seu despedimento. É um dos muitos custos associados ao pecado original da nacionalização da TAP.
O autor escreve de acordo com a antiga ortografia.