A inovação é feita de estímulos e esses estímulos são muitas vezes caracterizados de uma forma binária. Entenda-se: resolver um problema, encontrar uma oportunidade de crescimento. Encontramos muitas vezes, no entanto, um outro estímulo que pode não caber nesta forma de distinção: responder a um movimento/iniciativa de um concorrente.
Para que fique claro, não defendo que esta prática é um erro. Não questiono a relevância das organizações olharem para a concorrência, de se inspirarem. Muito pelo contrário, defendemos até, na Beta-i, que a concorrência pode ter um papel muito importante na inovação, como escrevo mais à frente.
Mas não questionar a relevância não quer dizer que não se deva discutir a intensidade e a preponderância com que é feito, face a um estímulo que consideramos como o estímulo determinante: o cliente. O foco no cliente, no comportamento, nas “megatendências”, permite prever e desenhar o futuro, liderar um setor. O foco na concorrência e, por consequência, no imediato permite sobretudo a inovação incremental, e dificilmente levará à liderança.
Quando as estratégias de inovação estão demasiado expostas aos movimentos dos concorrentes, tendencialmente trazem mais ansiedade às equipas, com repercussões claras nos resultados, tanto por desfoque da estratégia definida, como por perda de tempo com o “questionar permanente”. Este facto é ainda mais relevante num contexto de escassez de talento e dificuldade de retenção. Empresas focadas no futuro dos seus clientes serão por natureza mais estimulantes para os colaboradores do que apenas quando reagem aos movimentos dos concorrentes.
No entanto, não interprete mal estes meus argumentos. Olhar para o lado com o intuito de colaborar é uma boa estratégia. Num mundo com desafios cada vez mais interconectados e globais, a inovação ganha valor quando é colaborativa e consegue até juntar concorrentes à mesma mesa. Não em tudo, naturalmente, mas ao partilhar recursos e conhecimentos, as organizações podem mais facilmente encontrar e desenvolver soluções robustas, impulsionando o seu crescimento ou de todo o setor. Algumas das vantagens são muito claras: velocidade, risco partilhado, standarização de protocolos de indústria, valor de marca.
A inovação colaborativa entre concorrentes aproveita os pontos fortes de todos os intervenientes e não implica o desfoque no cliente – antes pelo contrário. É uma das soluções para os tempos de incerteza que vivemos, mas necessita, claro, de metodologias, melhores práticas e aprendizagens.
Na nossa visão, deve partir sempre de um pressuposto: se não formos nós próprios a pôr-nos fora de negócio, e a questionar o percurso feito, algum concorrente, já existente ou não, o fará.