Aproxima-se o final do meu mandato e esta será a minha última coluna no Jornal Económico. A próxima já deverá será assinada pelo meu sucessor.
Sinto um orgulho enorme por ter sido Embaixadora do Reino Unido em Portugal. Foram quatro anos esplêndidos num país maravilhoso que me acolheu sempre de forma calorosa. Mas foi também um período de grandes mudanças – tanto para os portugueses como para nós, britânicos.
Quando cheguei no Verão de 2014, Portugal tinha acabado de concluir a aplicação de um exigente programa de ajustamento e atravessado uma recessão sem precedentes, que havia colocado o desemprego num nível recorde. O moral dos portugueses estava então muito baixo.
No ano em que deixo Portugal, verifico com satisfação que, apesar dos desafios estruturais por vencer, a economia está a crescer e o desemprego a diminuir, provando que os sacrifícios pelos por que os portugueses passaram não foram em vão.
Mas o que mais me impressionou foi a energia do país. Das vitórias no Campeonato da Europa e na Eurovisão, passando pela eleição de António Guterres como Secretário-Geral das Nações Unidas e, mais recentemente, de António Vitorino como Director-Geral da OIM, Portugal entrou numa surpreendente maré de triunfos. A marca Portugal tem grande procura, incluindo por parte dos cerca de três milhões de turistas britânicos que visitaram o país no ano passado.
Os laços entre os nossos países duram há mais de 600 anos. Existem fluxos de comércio e de investimento significativos em ambas as direcções, por exemplo na indústria automóvel, nas ciências da vida, na economia digital e nos serviços financeiros. O Reino Unido (RU) é a quarta maior fonte de investimento directo estrangeiro em Portugal, o quarto maior mercado de destino para exportações portuguesas e o quinto maior fornecedor de bens e serviços para o mercado português.
Mas não só. Também ao nível das pessoas a nossa relação é muito forte. No RU vivem cerca que 400 mil portugueses, cuja contribuição para a nossa economia e sociedade é muito valorizada. Sei que a comunidade britânica em Portugal, perto de 40 mil, também é muito apreciada. O número de visitas de alto nível entre os nossos países nunca foi tão elevado na história recente, tendo o Presidente da República e o primeiro-ministro visitado o RU nos últimos dois anos.
O momento determinante do meu mandato como embaixadora em Portugal foi a decisão do povo britânico de sair da UE – um momento que mudou da noite para o dia o trabalho da nossa embaixada. Mas embora o Brexit apresente desafios, também irá proporcionar uma oportunidade para olharmos para o nosso relacionamento bilateral sob uma nova perspectiva, e pensarmos como poderemos fortalecer os laços existentes em áreas como a ciência e a cultura, por exemplo.
Queremos que RU e Portugal mantenham uma parceria tão próxima quanto possível, e sinto que ao longo dos próximos meses o RU não terá maior amigo e aliado, nem mais acérrimo defensor de um acordo sensato e construtivo, do que Portugal. Parto mais confiante do que nunca de que a nossa velha aliança perdurará por mais seis séculos.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.