Com as mais recentes declarações sobre a política nacional, o ex-presidente Cavaco Silva quase está a mostrar ao atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, um estilo e presidência que caiu em desuso com os dois mandatos do atual Chefe de Estado. E, ao mesmo tempo, envia um sinal de que algum centro-direita credível e não populista está vivo e pode estar a tentar escolher o protagonista ideal.

A assertividade da mais recente declaração de Cavaco Silva, como aliás a assertividade da anterior há algumas semanas, o facto de classificar a situação política como “muito perigosa” e de a deterioração desta acontecer “muito mais rápido” do que ele conseguiu antecipar, é um sinal evidente de que Cavaco está a apontar caminhos, um certo PSD está a mexer-se. Repare-se ainda que Cavaco o fez no lançamento do livro do atual líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, que foi assessor do ex-PR, numa cerimónia onde esteve Luís Montenegro.

Sabendo-se que Cavaco Silva está mais ativo do que nunca, nada disto acontece por acaso. Cavaco sempre geriu muito bem os seus silêncios, melhor ainda do que as suas intervenções. Falar nesta altura é porque sente que o centro-direita precisa de mobilizar-se. Escolheu o tempo e o modo muito bem, e fê-lo ao lado do atual líder parlamentar do PSD. Portanto, Marcelo poderá pensar que isto é um desafio à sua gestão mais parcimoniosa da crise política, sobretudo, se tivermos em conta que já deu a entender que não dissolverá o parlamento antes de 2024.

O problema é que o ciclo político está prestes a mudar, com eleições na Madeira, depois, eleições europeias, autárquicas, legislativas e presidenciais. Este autêntico turbilhão eleitoral apanha o país numa crise profunda em termos económicos e financeiros, e numa altura em que já se fala de crash durante este verão nas várias bolsas mundiais e até nos chamados ativos digitais.

Não bastava pandemia, a guerra na Ucrânia e a subida das taxas de juro, e Portugal ainda terá de enfrentar uma das maiores crises económicas de sempre, enquanto se debate com a instabilidade política.

O tema da TAP está a ser aproveitado para António Costa “desfazer” o seu ex-ministro Pedro Nuno Santos e isso está a obrigar os “pedronistas” a cerrarem fileiras. Por outro lado, o homem de confiança do PM , Fernando Medina, tem um adversário bem colocado no FMI, que lhe desfaz as teorias das contas públicas. Vítor Gaspar insiste que Portugal ainda não consegue sair em 2023 do pódio dos piores a nível de dívida pública e essa era uma bandeira com que Medina queria brindar o país.

O ex-ministro das Finanças é cético quanto à capacidade de Portugal ficar abaixo de França e de Espanha no peso da dívida pública medida em função do Produto Interno Bruto. Continuaremos nas três piores posições na UE e, se tudo correr bem, poderemos sair deste mau nível em 2024. O aviso do FMI fica para Portugal, pois esperam-se tempo “voláteis” nesta ressaca da guerra, dos problemas logísticos da distribuição criados pelo confinamento devido à pandemia, e, mais recentemente, pelo persistente nível elevado da inflação.

Não é apenas o Estado que revela uma elevada dívida, os particulares também estão numa situação confrangedora.