Na recensão do “The Big Com”, livro de Mazzucato e Colligton, do University College de Londres, publicado em fevereiro, John Arlidge lembra que durante os onze anos em que Margaret Thatcher foi primeira-ministra do Reino Unido, a despesa com consultores cresceu de 6 milhões para 246 milhões de libras; se parece muito, em 2022 atingiu 2,8 mil milhões de libras. Relatava o “Guardian” em 2020 que só a consultoria na implementação do Brexit custou 450 milhões de libras em três anos.
No passado dia 17, Diane Francis contava que Trudeau, primeiro-ministro do Canadá, levou a despesa com consultores a 17,7 mil milhões de dólares canadianos em 2020. Em março de 2020, o Australian Audit Office relatava que as despesas anuais de consultoria tinham duplicado para 650 milhões de dólares; o Australian Institute põe-nas hoje a mil milhões. Estima-se que o mercado mundial de serviços de consultoria em 2021 era de 1,4 milhões de milhões de dólares.
O recurso a consultores tornou-se tema de estudo nos anos 80, quando despontou a “consultocracia”, termo inventado por Hood e Jackson no seu “Administrative Argument” de 1991. Quanto o Estado paga é o custo visível, os papers apontam os “hidden costs” do recurso generalizado a consultores, dos conflitos de interesse (por exemplo, veja-se o “The Firm and the FDA: McKinsey & Company’s Conflicts of Interest at the Heart of the Opioid Epidemic” da House of Representatives) ao empobrecimento intelectual da máquina administrativa e a consequente redução das suas capacidades.
Mas as críticas vêm de longa data – já em 1951 Grodzins escreveu na “Public Administration Review” que o serviço dos consultores “is undoubtedly window dressing, sold as service by ‘consultants’, accepted as a mark of enlightenment by administrators, and verging in some cases on quackery”.
Mais maquiavélicos, Hodge e Bowman falam num artigo de 2006 dos consultores como “servants of power” e “foot soldiers”, que permitem a quem contrata legitimar posições ou ultrapassar inseguranças. E é muito ignorada a assimetria de riscos: ao contrário do trabalho in house, se as coisas correm mal o consultor, em geral, não suporta os custos, o que emparelha com tentar apresentar uma solução diferente, eventualmente não testada, para justificar a consultoria.
Os consultores cumprem funções essenciais: são uma opinião independente e trazem competências altamente especializadas. Salientava Armbrüster em 2006 que são “importantes difusores de normas, quadros de análise e práticas profissionais”. Mas só devem ser chamados quando necessário e para aquilo em que são mais competentes. A própria consultora australiana Nous utiliza o mote Governments want to cut wasteful spending on consultants; we agree.
É, portanto, necessário separar o trigo do joio, para poupar despesa onde ela não se justifica. E parafraseando Borges, sobre o xadrez no seu fabuloso “Jardim dos Caminhos que se Bifurcam”, é proibido contratar consultores para avaliar a contratação de consultores.