No dia 9 de Janeiro terão passado 145 anos sobre o nascimento de Robert Michels. Para quem não se interessa muito sobre Pensamento Político este nome pouco ou nada lhe dirá.
O Sociólogo Político e Economista de origem alemã, mas que fez escola em Itália, é um ilustre desconhecido para muitos de nós. Ainda assim, as suas teorizações, muitas delas conotadas com os regimes fascistas do século passado, têm um interesse acrescido nos dias que correm. Não só pelo (res)surgimento de alguns movimentos de pendor autoritário (não, não me vou alongar nas definições, nem entrar no cisma do que é fascista ou nazi, por exemplo), mas também pelo que estamos hoje a viver – para mais estando nós em mês de eleições (sim, já sei, “as eleições para a Presidência da República nada têm a ver com partidos políticos ou elites”, pois sim…!).
Mas porque é que recordar Michels é uma boa ideia nos dias que correm? São várias as razões, mas aquela que hoje quero invocar diz respeito à chamada “lei de ferro da Oligarquia”. Essencialmente, Michels, defendeu que os partidos políticos e outras organizações similares se desenvolvem na direcção de um crescente comportamento oligárquico, de cariz autoritário e com uma base burocrática.
Muitos foram os autores que, partindo desta argumentação, teórica ou empiricamente a usaram para perceber melhor eventos políticos, sobretudo ao nível dos partidos ou das organizações lato sensu. Na sua análise, feita antes da Segunda Guerra Mundial, uma vez que morreu em 1936, Michels passa de uma argumentação para uma quase inevitabilidade, e até desejo, de que as elites se transformem em grupos cada vez mais poderosos dentro de um contexto pouco, ou nada, democrático.
Confesso, no entanto, que não foi apenas a data do seu aniversário que me trouxe Michels à memória. Costumo reflectir bastante sobre a dinâmica dos nossos dias e como os comportamentos das instituições se vai refinando. Não me refiro sequer a movimentos mais ou menos populistas que aqui e ali vão surgindo. Refiro-me ao carácter endogâmico, de cariz nepotista, até, das instituições com que lidamos no dia-a-dia.
Existe uma certa elite a proteger o “seu quintal”. Aquela elite menos ou mais capaz que se esquece que a populaça um dia se direcciona para líderes populistas. Não só porque, muitas vezes, a população é desconhecedora de realidades mais abrangentes, se vê atraída por discursos simplistas e “soluções” absolutamente impossíveis, mas também porque (eu diria: “porque, principalmente,”) a população parece ver muito pouco do que é uma real mobilidade social.
Como escreveu Pierre Bourdieu, o capital social de diversos grupos é distinto, e esse capital social é a dimensão clara da mobilidade social. Ou seja, os aspectos económicos e de classe, bem como os bens culturais, não são despiciendos, como não é o sentido de auto-protecção de certos grupos para se analisar uma dada sociedade, os dias que correm e o Portugal de agora.
Em Portugal existem em muitos mundos. Aliás, os gatekeepers, no país, não são os que “guardam a Democracia”, à maneira das teorias norte-americanas, mas sim aqueles que se guardam de outros grupos, com menos poderes. Os que dela se servem. São ainda os mesmos, os nomes, as heranças, o estatuto, alguns de há séculos, a guardar, e muito bem, os seus tesouros de influência. Esses, a bem ou a mal, depende de onde nos encontramos, a conseguir ter sonos regeneradores todas as noites, porque escolheram quem como eles, e quem não.
A autora escreve de acordo com a antiga ortografia.